Somente a referência à derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 talvez seja capaz de explicar a dificuldade em que o governo Adiló e, mais precisamente, a gestão da saúde em Caxias ficou nesta terça-feira (16) na Câmara. Foi a primeira sessão desde a publicação do vídeo da secretária-adjunta da Saúde, Daniele Meneguzzi, anunciando a exoneração de médicos do Centro Especializado em Saúde (CES) e creditando, em parte, a ações de fiscalização de vereadores. Embora não tenha citado nomes, foi uma referência ao vereador Hiago Morandi (PL), cujos vídeos em unidades de atendimento têm reverberado.
Hiago, no entanto, não é o único parlamentar que visita UPAs e unidades básicas de saúde (UBSs) e, diante de cobranças da comunidade por soluções na área, os parlamentares consideraram uma afronta ao Legislativo a insinuação de que as fiscalizações estariam motivando os pedidos de desligamento.
A situação gerou fortes cobranças por um novo modelo de gestão da saúde até mesmo de integrantes da base governista. Presidente da Comissão de Saúde da Câmara, o vereador Rafael Bueno (PDT) chamou a atual estrutura de "necropolítica", por deixar na fila por meses ou até anos pacientes com diagnósticos graves. O vereador disse ainda que "ninguém vai silenciar o trabalho de fiscalização porque talvez não goste". Juliano Valim (PSD) e Calebe Garbin (PP) foram outros integrantes da base que mostraram descontentamento.
A vereadora Daiane Mello (PL) classificou o vídeo como uma tentativa do Executivo de terceirizar a culpa e sugeriu a criação de uma nova CPI da Saúde. No fim da sessão, o vereador Zé Dambros (PSB) era o único integrante da base a se manifestar na defesa do governo que permanecia no plenário.
Meses de cobranças
As reclamações dos vereadores e da comunidade não são inéditas e têm ganhado corpo principalmente a partir da ausência de soluções para as filas de espera. Em outra frente, há ineficiência na atenção básica, que sobrecarrega as UPAs.
Um exemplo citado pelos parlamentares foi o anúncio de um novo concurso para contratar médicos. Além de demorada, a medida não resolve as causas da falta de atratividade para os profissionais, que encontram na iniciativa privada possibilidades de salários mais altos.
A sugestão é a contratação de horas médicas e novas estratégias para substituir formatos antigos que não funcionam mais. São medidas adotadas por outros municípios, como Ananindeua (PA), e apresentadas no congresso realizado pela Câmara no fim de semana. Os parlamentares reclamam que Daniele não participou dos painéis.
Migrantes
Outro fator que têm incomodado cada vez mais os vereadores é a justificativa de que a sobrecarga nos serviços públicos de Caxias são causados por quem chega de fora. Rafael Bueno (PDT) classificou a explicação de "xenofobia" e encontrou eco em colegas, como a bancada do PCdoB.
Formas de fiscalizar
As cobranças ao Executivo não isentaram de críticas a forma com que o vereador Hiago Morandi (PL) faz as inspeções em órgãos de saúde, ainda que apoiando a fiscalização. Claudio Libardi (PCdoB) disse que ações do tipo deixam a população contra os médicos, enquanto é preciso ficar atento à gestão da saúde. Andressa Marques (PCdoB) e Rafael Bueno (PDT) se manifestaram na mesma linha.
No Executivo, o entendimento é de que os vídeos mostrando situações com médicos específicos expõem uma categoria inteira e que essas ações estão causando grande estrago.




