Trago notícias desimportantes aos olhos da massa, porém reveladoras do fim do mundo. Aliás, o mundo, como o conhecíamos, já acabou. Faltavam provas. Ei-las.
Na semana passada, a Nature – uma revista científica com muitas letras e significados impossíveis à subcultura bolsonarista – divulgou um estudo global liderado por pesquisadores israelenses, mostrando que a massa antropogênica superou o corpo total das formas de vida na Terra.
Isso é talvez a notícia mais chocante desde a bomba atômica ou a última lesão apocalítpica de Neymar. Significa que a massa de objetos e obras resultantes da ação humana ultrapassou pela primeira vez a biomassa da Terra, formada por árvores e demais vegetais, animais, fungos, micro-organismos – incluindo-se também o peso de todos os seres humanos vivos hoje, e o de seus animais e plantas domesticados.
Achou pouco? A cada semana, tudo o que você produz supera o seu próprio peso. Só o plástico tem o dobro da massa de animais do planeta: 8 gigatoneladas de plástico para 4 gigas de animais. A cada 20 anos essa nova façanha vai se repetir. E, sabe, das “façanhas de modelo a toda Terra”, nós, gaúchos, entendemos; podemos então ceder o nosso belo e visionário hino para o planeta.
A outra notícia fugaz do fim do mundo vem da indústria automobilística: chegou a nova Dodge RAM, a picape mais potente do Brasil, com 400 cavalos de força, pesando 2,6 toneladas, motor V8 a gasolina, preço a partir de 400 mil Reais, capaz de ir de zero a 100 kms/hora em 6.4 segundos. E... – gran finale – capacidade de carga de risíveis 610 quilos! Um pouco mais que um daqueles modestos furgões Fiorino, da Fiat.
Destaco um trecho da matéria, o que me isenta de comentários adicionais acerca do nosso atraso: “A simplicidade mecânica é um dos argumentos da fabricante para atrair consumidores no Brasil profundo. São regiões com muito dinheiro, pouca assistência técnica e agronegócio em alta.”
A Terra é dinâmica. Quando foi o caso, livrou-se dos tigres de dentes de sabre e até dos tiranossauros, que se achavam os tais. Mas o planeta talvez tenha mais trabalho, e bem menos tempo, para vomitar o homo sapiens. Antes que seja tarde. Um critério lógico seria a extinção da parte mais tóxica da espécie: os capitalistas predadores e os ricos insaciáveis – algo em torno de 1% da espécie. Isso já aliviaria 90% do consumo supérfluo do planeta.
Ah, os fascistas também devem ter prioridade na fila do fim do mundo, antes que o mundo todo afunde no seu abismo de melancolia.




