Temos um enorme problema: o nosso gigantismo. O Brasil parece um daqueles gigantes de circo que chocavam o mundo. Não sabemos bem como usar o nosso tamanho descomunal. Prova disso, de caráter freudiano elementar, desconfio, é a nossa fixação em termos diminutivos.
No jogo da seleção canar(inho) na Copa da Rússia, sai Paulinho e entra Fernandinho; Marquinhos está no banco e logo pode reforçar a marcação para liberar ainda mais o menino Ney (Jr.) Temos batalhões de Ronaldinhos, Toninhos, Jairzinhos. Até aquele jogador síntese do futebol diminutivo, Zinho, que ficava dando passes em volta de si mesmo no meio-campo daquela seleção chata e campeã de 1994.
Muito antes disso, no ano de 1953, quem recebia pela primeira vez a nova camisa amarelo-ouro da seleção brasileira de futebol, das mãos de seu jovem criador, o escritor Aldyr Garcia Schlee, era o boleiro e malandro carioca Zizinho, craque do Vasco e da seleção. Até a Copa de 50, no tal Maracanaço, o Brasil jogava de uniforme branco – algo que não condizia muito com a identidade da nação. Consultando os nomes da esquadra nacional de 1950, lá estava, de branco, ao lado de Zizinho, um tal de Adãozinho.
Mas o futebol, centelha da identidade brasileira, não é acervo único do nosso viés diminutivo. Os nossos “inhos” estão por toda a nossa linguagem, em nossa alma, portanto. Anos atrás, em uma viagem de Vespa ao Rio de Janeiro, com dois amigos vespistas, cruzávamos já noite uma estrada sinistra pelo litoral-sul de São Paulo, quando passamos por uma placa indicando o lugarejo de Conceiçãozinha. Uma espécie de diminutivo de Nossa Senhora da Conceição – pensei.
Tantos "inhos" seriam uma herança da mãe Língua Portuguesa, amplificada na terra abençoada onde em se plantando tudo dá, Majestade? Temos tanto carinho e tanta saudade, tanta candura e tanta pena de nós mesmos, que preferimos nos expressar em diminutivos. Misturamos as terminações naturalmente, somos "ãos" e logo ali "inhos", gigantes e bebês por natureza. Assim terminamos por confundir nossas essências: somos um povo cordial e extremamente violento; somos alegres e muito melancólicos. Temos muita terra e muita água, justamente para dar (e exportar em grãos e madeiras) e vender (pagando em moedas cada garrafinha nos supermercados).
O fronteiriço Aldyr Schlee tremia diante dos fotógrafos e autoridades no momento em que entregava a nova camisa do Brasil para Zizinho; então o boleiro retrucou, em bom carioquês: "Não esquenta, rapaz, que isso tudo é uma mérrrda!"