Já que há poucos dias comemoramos o Halloween, falemos de bruxas. Há duas características destas mulheres, consideradas bruxas, que atravessaram gerações e imaginários e chegaram para nós até hoje. A primeira, bem óbvia, é que se trata de uma mulher velha. A velhice feminina é muito mal vista em nossa sociedade por inúmeros motivos. Talvez o principal deles é de que uma mulher velha perde seu valor reprodutivo. E sim, numa sociedade que usa a maternidade como lugar de reconhecimento, ficar velha é perder o lugar da reprodução. É um valor biológico e que é usado largamente até hoje, inclusive como modo de produção de angústia em mulheres que não desejam ter filhos ou preferem investir seu tempo vivendo outras experiências. O peso sobre ser mãe recai sobre o feminino. O masculino não sofre com a obrigação de ser pai. A propósito, de acordo com os últimos números do IBGE, há uma ausência extrema da figura paterna nas famílias brasileiras e mesmo assim, pouco se fala sobre a irresponsabilidade familiar da figura masculina. Aliás, homens envelhecem e ficam charmosos, as mulheres fazem plástica.
Daí começamos a entender porque somos um país que investe milhões em botox, harmonização facial e toda mercantilização da promessa do resgate da beleza da juventude, como se a beleza pertencesse apenas a uma certa idade. Assim, mulheres jovens sofrem porque são ingênuas e, as mais velhas sofrem porque não são mais jovens. Resultado final, passamos uma vida em função do que os outros pensam, desejam e esperam de nós, agradando, sorrindo e às vezes sendo mesquinhas com outras mulheres que tentam romper com isso.
A outra característica é a raiva. Mulheres que expressam suas raivas são julgadas. Uns dizem que é falta de hormônios, outros que é da natureza feminina ser descontrolada e impulsiva. Uma mulher com raiva é uma mulher feia, pois além de ter mais rugas, não é bem vista. O aceito é ser boa moça.
Ser bruxa não é um ideal de mulher. Porque o ideal, segundo Despentes, é ser sedutora, mas não tanto, trabalhar mas sem ter tanto sucesso, ser magra mas não ser neurótica com o peso, fazer plásticas mas não ficar desfigurada com elas, ser mãe mas não esquecer das obrigações com o marido, culta mas não muito, e se ficarem de saco cheio, não devem demonstrar e manter-se plenas. E lhes digo, se bruxas não existem, essas daí menos ainda.
Uma mulher que assume sua velhice, a beleza que há nesta idade e que expressa sua raiva para dizer daquilo que não tem mais espaço em sua vida, dá um basta nisso.






