Adriana Antunes
Com o passar do tempo f_i aprendendo sobre a importância das peq_enas coisas, dos detalhes do cotidiano. De como aq_ilo q_e fingimos não ver, q_e achamos insignificante, de repente cresce e se torna o foco da nossa ang_stia. Coisas min_sc_las, q_e passam a nos incomodar prof_ndamente. Pode ser o fato dele não tirar a toalha de cima da cama depois do banho, o latido do cachorro preso de alg_m vizinho, o modo como ela mastiga, a mania de tirar as coisas do l_gar e não devolver, pode ser, por exemplo, a falta de _ma letra no teclado. N_nca dei importância para a tal letra q_e agora nem mesmo posso representá-la porq_e ela desapace_.Respiro aliviada por não ser a vírg_la, afinal não sei como conseg_iria escrever sem pa_sas. Assim como a vida, _m texto precisa respirar. No entanto, algo tão ridíc_lo como isso, interrompe o fl_xo de pensamento, atrapalha as ideias, traz à tona o desejo de fazer a letra “_” f_ncionar de q_alq_er modo. Me_ lado paranoico e obsessivo aparece, finalmente. Não tenho problemas com q_adros tortos na parede, nem com chão meio desnivelado, tão po_co me importo com a bag_nça dos livros sobre a mesa, mas q_ando se trata de escrever, as coisas m_dam de fig_ra. E aí, a falta da letra não me deixa ir adiante, fico patinando, repetindo ideias, tentando descobrir palavras q_e não tenham a tal letra faltante e percebo q_e começo a andar em círc_los.
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