
Uma iniciativa reúne fotografias de pontos turísticos e culturais de Passo Fundo com audiodescrição, buscando a inclusão de quem tem baixa visão no cotidiano da cidade. O projeto "Passo Fundo Pra Cego Ver" busca criar experiências informativas e acessíveis para pessoas com deficiência visual.
Neste primeiro momento, são 15 retratos de pontos icônicos do município, como a estátua do Teixeirinha, Catedral Nossa Senhora Aparecida, Chafariz da Mãe Preta e rua Morom. Os espaços selecionados foram analisados pela Associação de Cegos de Passo Fundo (Apace).
— Levantamos os pontos mais conhecidos da cidade e apresentamos para validarem o que era mais interessante e que fizesse mais sentido para eles, como a pista de atletismo da Universidade de Passo Fundo, onde eles realizam a atividade da bike tandem, de dois lugares — conta o idealizador do projeto, Robson Flores.
Voluntário na Apace desde 2019, ele pesquisou por tecnologias que ampliassem a acessibilidade para pessoas cegas. Foi quando conheceu o projeto "Salvador Pra Cego Ver" que decidiu trazer a ideia para a cidade.
Tem pessoas que nunca tiveram acesso a lugares que, para nós, são comuns. Não tem nem noção de como é o lugar que passam todos os dias.
ROBSON FLORES
Idealizador do projeto
Robson é responsável pela criação da audiodescrição das imagens divulgadas no site da iniciativa. O processo de criação contou ainda com o apoio de outros cinco profissionais: Diogo Zanatta, fotógrafo e publicitário; Fabiana Beltrami, jornalista responsável pela locução da audiodescrição; Gabriela Dorneles, designer que desenvolve a identidade visual e materiais gráficos do projeto; Claudia Flach, guia de turismo; e Everton Souza, consultor de audiodescrição.
— Para nós, pessoas com deficiência visual, esse projeto tem um significado maior ainda. Geralmente, a pessoa com deficiência fica excluída desses espaços culturais, como teatro, questões de cultura da própria cidade, de história. Então, para nós foi muito significativo — relata Everton.
Como funciona o projeto

No site Passo Fundo Pra Cego Ver o usuário encontra as 15 fotografias selecionadas com audiodescrição disponível, além de curiosidades sobre cada espaço. Em breve, deve ser incluído um audioguia com geolocalização em tempo real.
O conteúdo também está sendo disponibilizado aos poucos no Instagram do projeto (@passofundopracegover).
Além disso, o grupo deverá distribuir o material em formato impresso para que o público geral conheça a iniciativa. Através de um QR Code, o usuário é direcionado à audiodescrição dos pontos da cidade.
— Algumas cópias serão distribuídas na Biblioteca Municipal e no Instituto Histórico, além de ser disponibilizado para download no site — acrescenta Robson.
E a ideia é ampliar o projeto para que, em breve, toda a comunidade possa enviar fotos para somar à iniciativa:
— Vamos supor que a pessoa mandou uma foto do negócio dela, da fachada de um supermercado, por exemplo. Vamos criar a audiodescrição e adicionar ali, porque o objetivo é que a nossa cidade se torne cada vez mais acessível, independente de ser um ponto histórico ou não.
Tours guiados
O "Passo Fundo Pra Cego Ver" foi contemplado pelo 8º Prêmio Funcultura, na categoria Artes Visuais. Como contrapartida, foram realizados três tours guiados pela cidade com deficientes visuais.
A guia de turismo e responsável pela atividade, Claudia Flach, conta que precisou adaptar o roteiro, pois não seria possível fazer todos os 15 locais indicados em um único passeio.
— Visitamos alguns lugares mais distantes, como o trevo da Roselândia e o Santuário Nossa Senhora Aparecida, que foram pedidos do pessoal que participou — relata.
Para incluir ainda mais os participantes à realidade dos pontos turísticos da cidade, a guia criou um material tátil com EVA de diferentes texturas para identificar cada parte das edificações. Cores contrastantes também foram utilizadas para que pessoas com baixa visão também pudessem distinguir as diferenças.

— Inicialmente fiquei bem insegura, pois queria que eles pudessem ter uma noção dos locais que percorremos. Lembrei que na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tinha um laboratório que trabalhava com cartografia tátil, para inclusão nas escolas. Adaptei a ideia, procurei fotos com as fachadas de alguns dos pontos, imprimi e fui desenhando os detalhes, portas, janelas e transferindo para os diferentes tipos de EVA — explica.
O objetivo é que novos tours sejam realizados futuramente, para incluir ainda mais os deficientes visuais no cotidiano de Passo Fundo.



