Estudantes da Terra Indígena Goj-Júr, em Passo Fundo, no norte gaúcho, estão há oito meses com a escola fechada. Única no local, a Escola Indígena de Ensino Fundamental Adalírio Lima Siqueira está interditada desde julho de 2024.
Em agosto passado, os 30 alunos dos ensinos infantil e fundamental estudavam em tendas cedidas pela Defesa Civil do Estado. Porém, no início de abril, as lideranças indígenas suspenderam as atividades e a tenda foi desmanchada.
— Com o calor, muitas crianças acabaram adoecendo e necessitaram de atendimento médico. Não tinha mais como. Nos sentimos abandonados pelo Estado — disse o cacique Jocemar Mariano.
Thedy Mariano, 12 anos, é um dos alunos que segue sem aulas na aldeia.
— Era muito abafado ali dentro, não tinha como estudar. Era uma hora no máximo e depois não dava mais. Não tinha como me concentrar — disse o estudante, que sonha em ser médico.
Construída pela própria comunidade em 2022, a escola de madeira foi interditada após danos estruturais provocados pela chuva. Até o final daquele ano, funcionou como extensão da Escola Estadual Indígena Manoel Inácio, de Água Santa. A partir de 2023, a escola ganhou o status de unidade escolar estadual e entrou para o censo escolar do MEC.

Ivanilce Lima Siqueira, 35, tem um dos filhos na escola. Sem o local adequado, a merenda era toda feita na casa dela.
— É triste ver nossos filhos sofrendo pra ter um colégio melhor. Na idade deles, eu tive onde estudar. Não adianta estudarem na barraca — disse.
Segundo a diretora da instituição, Girley Ribeiro, a escola conta com cinco professores. Ainda são necessários outros dois profissionais: para Educação Física e atendimento de crianças especiais.
— Para os educadores é mais difícil ainda, pois estão improvisando tudo. E fica ainda mais difícil segurarmos a atenção dos alunos — conta.
O que diz o Estado
De acordo com a 7ª Coordenadoria Regional de Educaçao (7ª CRE), o trabalho de reforma do antigo prédio e a troca da rede elétrica deve começar nos próximos dias.
— Claro que, pedagogicamente, precisamos criar alternativas para os estudantes. Vamos trabalhar com a comunidade para que eles recebam algum tipo de atendimento remoto junto com o acompanhamento pedagógico nos próximos dias — disse a coordenadora da 7ª CRE, Carine Weber.
A escola recebeu R$ 60 mil, pagos em duas parcelas, para a reforma da estrutura. Segundo Weber, com o recurso, o Estado adquiriu os materiais necessários para a instalação de uma rede elétrica provisória nas tendas, entre outras melhorias. Mas as mudanças não foram aceitas pelas lideranças até o momento.
— O recurso permanece para que a gente possa utilizá-lo na reforma elétrica provisória, ou então depois da aquisição de materiais quando a escola estiver reformada — explicou.