
Em meio a telas, notificações e vídeos rápidos, conquistar a atenção das crianças tem se tornado desafiador para pais e educadores. Quando os eletrônicos somam distrações, antigos aliados ainda mostram benefícios importantes para o desenvolvimento infantil: os livros.
Especialistas em educação apontam que o contato com a leitura, se iniciado desde cedo, pode ser um importante incentivo para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social de crianças. A leitura pode ser também uma válvula de escape para o vício das telas.
— É uma aliada para ampliar a linguagem, o pensamento e a imaginação, estimulando o raciocínio simbólico e o prazer estético. Desde cedo, o contato com as palavras, imagens e sons pode despertar a curiosidade, favorecer a expressão das emoções e fortalecer vínculos afetivos — afirma a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo (UPF), Fabiane Verardi.
Em contraponto às telas, que apresentam imagens prontas e rápidas, a literatura oferece uma experiência despertada pela imaginação e pelo silêncio. A professora destaca que os livros são um convite à pausa, à escuta e à criação interior:
A criança imagina rostos, espaços e sentimentos ao construir seus próprios sentidos para a história.
FABIANE VERARDI
Professora da UPF
A relação entre texto e imagem, por sua vez, é apontada como essencial em livros infantis. Isso porque a consonância dos elementos possibilita que a criança vá além e estimule sua criatividade.
Telas x Livros
Mas a dificuldade de manter a assiduidade da leitura entre os pequenos é cada vez maior.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Pró-livro (IPL) e pelo Ministério da Cultura, em 2024, apontou que o percentual de leitores entre crianças de 5 a 10 anos era de 71% em 2019 e caiu para 62% em 2024. Entre crianças de 11 a 13 anos, o percentual se manteve o mesmo: 81%.
A pesquisa também apontou que, entre as atividades escolhidas para executar no tempo livre, a mais votada por crianças de 5 a 11 anos foi assistir televisão, seguida por utilização da internet. A leitura ocupa a 9ª posição entre as escolhas.
Já entre crianças de 11 a 13 anos, a atividade mais votada foi a utilização da internet. Já a leitura de livros, seja físico ou digital, ficou em 16º entre as atividades escolhidas para fazer no tempo livre.
Ferramenta emocional

Os benefícios da leitura vão além da criatividade e desenvolvimento cognitivo. Reconhecer sentimentos, como medo, alegria e tristeza nos personagens é apenas um dos pontos que possibilitam a compreensão das próprias emoções.
O livro age como um “ambiente” seguro, onde a criança pode experimentar suas emoções, sem frustrações.
— A criança que lê se coloca no lugar do outro, compreende diferentes modos de ser e de sentir, e isso colabora para ampliar seu repertório afetivo e cultural — argumenta a professora.
Em geral, crianças acostumadas à velocidade das telas estão mais propensas à intolerância de narrativas literárias, especialmente as que demandam mais tempo.
— Há um empobrecimento do repertório emocional, pois as telas oferecem aquela distração imediata, mas raramente favorecem o mergulho interior que os livros proporcionam — diz Fabiane.
Incentivo e presença familiar

Para reverter o cenário, a professora destaca a importância do incentivo à leitura no seio familiar. Manter uma rotina, mesmo que breve, tem resultados significativos com o passar dos anos.
Outra forma de gerar anseio pela leitura durante a infantilização é ler as obras em voz alta, valorizar a materialidade do livro e, acima de tudo, dar exemplos próprios.
Quando a criança vê um adulto lendo por prazer, sem obrigações, ela entende que a leitura é um gesto de curiosidade e encantamento.
FABIANE VERARDI
Professora da UPF
Aliado à ideia de que as famílias são importantes para que essa escolha aconteça, há o incentivo antes mesmo da alfabetização: obras feitas de pano, com materiais para utilização no banho e contendo ilustrações coloridas propiciam familiaridade com o objeto.
Assim, a proximidade com personagens e histórias torna-se algo comum na rotina da criança.
Livros infantis em Passo Fundo
Na Capital Nacional da Literatura, o que não faltam são espaços destinados ao incentivo do desenvolvimento do gosto infantil pela leitura.
A Biblioteca Pública Municipal Arno Viuniski — localizada na Rua Morom, 2019 — oferece diversificado acervo e atividades voltadas ao público infantil, como contações de histórias e oficinas. O local está aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h.
A prefeitura também tem o Programa de Incentivo à Leitura Boralê, que distribui aos estudantes da rede municipal um vale-livro. Com o ticket, a criança pode retirar uma obra no valor de R$ 40 com algum dos livreiros credenciados na Feira do Livro de Passo Fundo.
Outro destaque é o Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura, da UPF. O espaço atua há décadas na formação de leitores e mediadores, com projetos como os Livros Passeadores, que leva acervos literários até escolas da região.
Livrarias locais também investem em ambientes acolhedores e eventos literários voltados às famílias, reforçando a presença dos livros no cotidiano infantil.
Para além de um hábito, a leitura na infância pode ser uma forma segura – e tradicional – de ver o mundo com outros olhos e suscitar variados sentimentos.
— A literatura não é um substituto às telas, mas ela oferece algo que elas não possuem: o silêncio, a escuta e a imaginação. Ler é um ato de afeto e presença, é com esse gesto que se formam leitores e pessoas mais sensíveis, empáticas e criativas — finaliza a professora.
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