
Ensinar a ver os filmes com olhos de diretor de cinema: essa é a premissa do professor universitário e jornalista passo-fundense Fábio Rockenbach, que reúne 60 mil seguidores nas redes sociais ao mergulhar nos detalhes da sétima arte.
Os conteúdos virais, parte deles análises sobre obras nacionais, rendem milhares de curtidas e discussões entre os "cinéfilos" mais engajados. Uma dessas publicações, com 1,4 milhão de visualizações, fala do posicionamento de câmeras no longa O Lobo Atrás da Porta (2013). Outra, com 16 mil interações, lista 20 filmes para conhecer o cinema brasileiro, cuja data é comemorada nesta quinta (19).
— As redes têm capacidade de conectar pessoas com interesses em comum. Muita gente sempre gostou de cinema, mas agora (as redes) fazem com que esses conteúdos se retroalimentem e o retorno que tenho é muito bacana — diz.
Com perfis ativos há cerca de uma década, as publicações começaram a ganhar tração na pandemia, entre 2020 e 2021. Segundo Rockenbach, o período estimulou as pessoas a procurarem materiais online sobre seus interesses.
Na esteira veio o curso Experiência do Cinema, lançado em 2023 e ministrado — além de gravado e editado — pelo especialista. Até hoje, mais de 2 mil alunos já assistiram as aulas, entre brasileiros e estrangeiros.
— É possível fazer as pessoas se interessarem por aulas à distância sem ser um conteúdo monótono. Tenho alunos de todo o Brasil, Espanha, México. Está nos planos legendar as aulas, para ampliar esse alcance — conta.
Nas aulas, o professor demonstra como é possível extrair a narrativa dos filmes para além do superficial, por meio de elementos como cores, luzes, ângulos e sons.
Além do Oscar

O cinema brasileiro, afirma Rockenbach, está em ascensão e conta cada vez com mais investimentos, mas a visibilidade é uma lacuna que falta ser preenchida.
— O Oscar não deve ser o parâmetro, mas a carreira internacional atrai pessoas de fora a investirem no cinema daqui, trazendo visibilidade. Neste ano, o Brasil foi o país homenageado no Festival de Cannes, além de ter sido premiado com "O Agente Secreto" em melhor direção e melhor ator — analisa.
Outro território onde o país ainda precisa ganhar espaço é nas plataformas de streaming. O professor explica que somente 5% do catálogo da Netflix é composto de cinema nacional, enquanto países da União Europeia exigem que 30% do acervo das plataformas seja de filmes e séries produzidos no continente.
Cinco filmes para conhecer o cinema gaúcho
A pedido da reportagem, o especialista listou os cinco melhores filmes gaúchos na sua avaliação, entre produções mais e menos conhecidas. Confira abaixo.
Ainda Orangotangos (2007)
O filme do diretor Gustavo Spolidoro foi o primeiro longa brasileiro a ser gravado em plano-sequência, ou seja, sem cortes. A história se passa em Porto Alegre no dia mais quente do verão e acompanha um casal de imigrantes chineses.
Saneamento Básico (2005)
Produção do diretor gaúcho Jorge Furtado, um dos mais renomados cineastas brasileiros. A comédia, com Fernanda Torres e Wagner Moura, foi gravada na região da Serra Gaúcha, com locações em Monte Belo do Sul.
Tolerância (2000)
Dirigido por Carlos Gerbase, o filme franco-brasileiro se passa em Porto Alegre. Trata-se de um drama com suspense estrelado pela atriz Maitê Proença.
O Filme da Minha Vida (2017)
Dirigido e estrelado por Selton Mello, o drama se passa na década de 1960 numa cidade de interior do Rio Grande do Sul. O longa foi rodado também na Serra Gaúcha.
O Homem que Copiava (2003)
Mais uma direção de Jorge Furtado. O filme foi quase todo rodado em Porto Alegre, com exceção de algumas sequências no Rio de Janeiro. A produção é estrelada por Lázaro Ramos, Leandra Leal e Pedro Cardoso.