
Por Germano Luis Anguinoni e Marcos Antonio Galeti, técnicos em agropecuária, e Oriberto Antônio Adami, engenheiro agrônomo, extensionistas rurais da Emater/RS-Ascar
A citricultura nos municípios de Paim Filho, São João da Urtiga e Maximiliano de Almeida, localizados ao norte do Rio Grande do Sul e integrantes da bacia hidrográfica dos rios Apuaê e Inhandava, é uma trajetória caracterizada pela superação, inovação e valorização da agricultura familiar.
Começando nos anos 1990 com o Programa Estadual de Citricultura por meio do Fundo Estadual de Apoio aos Pequenos Estabelecimentos Rurais (FEAPER), a atividade passou por diversos desafios, mas ao longo do tempo progrediu, transformando-se em uma relevante fonte de renda, mantendo os jovens no campo e auxiliando no desenvolvimento local.
O começo
Na década de 1990, poucos produtores da região consideravam o cultivo de citros uma alternativa viável, como a pecuária leiteira e a produção de grãos. As propriedades, em sua maioria pequenas e localizadas em terrenos declivosos, enfrentavam limitações estruturais e dificuldades de mecanização. Além disso, havia grande escassez de mudas de qualidade, com dificuldade de acesso a viveiros, falta de assistência técnica especializada e estrutura de comercialização.
Apesar dessas dificuldades, alguns agricultores pioneiros de Paim Filho, São João da Urtiga e Maximiliano de Almeida começaram a cultivar laranjas, bergamotas e limões, enxergando nessa atividade uma oportunidade de diversificar a produção e gerar renda em áreas antes subutilizadas.
No ano de 1994, houve a instalação de uma classificadora de citros em Maximiliano de Almeida e a criação de uma cooperativa, o que viabilizou a comercialização.
Terreno e clima propícios
Com o tempo, tornou-se evidente que as condições naturais desses municípios eram propícias à produção de frutas de alta qualidade. As laranjas cultivadas na região se destacam pela cor vibrante, aroma intenso e sabor equilibrado, resultado da combinação perfeita entre teores de açúcar e acidez, graças ao clima favorável dos vales.
Temperaturas amenas e amplitudes térmicas proporcionam nosso diferencial. Essa característica tem sido amplamente reconhecida tanto pelos consumidores locais quanto por técnicos e especialistas na área de fruticultura.
O sabor característico da fruta também abre espaço para o mercado de sucos naturais e outras formas de agregação de valor.
Sucessão rural
À medida que o negócio se expandia e as técnicas agrícolas melhoravam, a citricultura começou a ser vista como o futuro. Filhos de agricultores que haviam migrado para a cidade em busca de outras oportunidades começaram a ver a citricultura como uma opção viável para permanecer na propriedade e administrar negócios inovadores e sustentáveis.
Essa mudança cultural foi essencial para fortalecer a sucessão rural e garantir a continuidade das pequenas propriedades familiares.
Nos últimos anos, os produtores da região vêm contando com maior acesso a mudas certificadas, programas de assistência técnica, incentivo com políticas públicas municipais e estaduais voltadas à fruticultura. Essa evolução contribuiu para a atração de investimentos na indústria de sucos cítricos.
Produtividade
A região possui aproximadamente 300 hectares implantados, sendo uma fonte importante de renda para dezenas de famílias nos municípios de Paim Filho, São João da Urtiga e Maximiliano de Almeida, demonstrando o potencial da região onde a média de produção está em torno de 35 toneladas/ha, gerando uma renda de R$ 30 mil por hectare,
Isso equivale hoje a 230 sacas de soja/ha — inserida na bacia dos rios Apuaê e Inhandava — como produtora de frutas de qualidade diferenciada.
A história da citricultura nesses três municípios do norte gaúcho mostra que a combinação entre coragem, inovação e trabalho coletivo pode transformar realidades. O que começou como uma iniciativa modesta, em terrenos desafiadores, tornou-se um exemplo de sucesso na agricultura familiar: gerando renda, garantindo qualidade de vida no campo e produzindo frutas com sabor e qualidade reconhecidos.
A Emater/RS-Ascar durante esta evolução está sendo fundamental para a consolidação da atividade com assessoramento técnico, palestras e dias de campo, fortalecendo o setor.
Esse é um legado que inspira e confirma: é possível cultivar oportunidades onde muitos só enxergavam limitações.