
Principal cultura de inverno do Rio Grande do Sul, o trigo deve perder espaço neste ano. Pressionados pela dificuldade de acesso ao crédito, os altos custos de produção e incertezas do clima, os produtores gaúchos devem reduzir em quase 10% a área destinada à cultura na safra de 2025. A projeção é da Emater/RS-Ascar, com base em levantamento feito entre 12 de maio e 9 de junho em todas as regiões do Estado.
A estimativa é que 1,19 milhão de hectares sejam cultivados com o cereal neste ano, frente aos 1,33 milhão de hectares registrados em 2024 — um recuo de 9,98%. Mesmo com a redução, a produtividade esperada é maior: cerca de 2,99 toneladas por hectare, 7,7% acima da última safra. Com isso, a colheita deve alcançar 3,59 milhões de toneladas, aproximadamente 100 mil toneladas a menos que o ciclo anterior.
Segundo Claudinei Baldissera, diretor técnico da Emater, a retração no trigo também é reflexo da expansão de outra cultura de inverno: a canola.
— A canola ganhou espaço com preços melhores e demanda firme na indústria. Vai ocupar mais de 203 mil hectares nesta safra, crescimento de 37,4%. Para o produtor, é uma alternativa mais segura neste momento — aponta.
Líder no RS, plantio na região de Ijuí também vai ser menor neste ano

Nem mesmo a região de Ijuí, líder estadual no cultivo de trigo, escapou da redução. A área estimada caiu de 327,6 mil hectares para 311,9 mil hectares, retração de 4,79%.
— O produtor está mais cauteloso. Falta crédito, o custo é elevado e o preço do trigo não compensa o risco — analisa Gilberto Bortolini, da Emater regional de Ijuí.
O agricultor Arcione Magnani, de Santa Rosa, também está repensando a lavoura.
— Todo ano é uma incerteza. O trigo exige muito investimento e o retorno é baixo. Este ano vou plantar menos trigo e apostar mais no milho, que tem tido resultado melhor — afirma.
Desta vez, o clima preocupa menos

Apesar do receio com eventos climáticos extremos, o pesquisador da Embrapa Trigo, Osmar Rodrigues, avalia que, até agora, a atual condição do tempo é positiva para o trigo.
— Temos boa umidade no solo, até acima do ideal em algumas regiões, mas o que mais preocupa é a primavera. A boa notícia é que estamos em um ano de neutralidade climática. A previsão não indica excesso de chuvas, o que costuma prejudicar a colheita — explica.
No panorama geral, a área total das culturas de inverno no Rio Grande do Sul deve atingir 1,83 milhão de hectares, uma queda de 2,78% frente a 2024. A produção, por outro lado, tende a aumentar, puxada pela produtividade: a estimativa é de 4,93 milhões de toneladas, crescimento de 2,25% em relação à safra passada.
O clima propício aliado a um bom manejo é a aposta do Carlos Diehl, de Cruz Alta, a capital nacional do trigo. Ele costuma plantar a cultura em um terço da propriedade total, o que equivale a 160 hectares, e aposta numa prática chamada de rotação de culturas.
— Eu tenho, para cada cultura, um protocolo de biológicos e adubação, então tento maximizar o poder da planta, de entregar a produtividade maior possível. Esse ano, sem previsão de El Niño ou La Niña, a expectativa é de uma boa produção. Todo ano faço a rotatividade e planto o trigo em áreas diferentes. Isso diminui a probabilidades da cultura sofrer com doenças e aumenta a produtividade — destaca.