Por Carlos Milioli, diretor do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS)
Apesar de sua reconhecida importância para o desenvolvimento econômico e social do país, a educação profissional está longe de ocupar o espaço que merece no Brasil. O número de matrículas segue em ritmo lento: em 2024, o crescimento foi de apenas 7% em relação à média registrada nos últimos cinco anos. A pergunta é: por que jovens e suas famílias ainda não veem na formação técnica uma opção de futuro?
A resposta passa por fatores culturais, estruturais e políticos. Pesa o imaginário social que valoriza quase exclusivamente o Ensino Superior como símbolo de sucesso. Para muitas famílias, sobretudo de baixa renda, ver o filho na universidade é uma conquista simbólica.
Falta informação e sobra desinformação. Muitas famílias desconhecem cursos técnicos acessíveis e estruturados que poderiam abrir portas reais para o mercado. A ausência de campanhas eficazes e de orientação vocacional nas escolas contribui para que essas oportunidades passem despercebidas.
Pesa o imaginário social que valoriza quase exclusivamente o Ensino Superior
A pouca articulação entre Ensino Médio e educação profissional também é um entrave. A oferta de cursos integrados é limitada. Muitas vagas são oferecidas apenas após a conclusão do Ensino Médio, o que desestimula adolescentes que precisam trabalhar cedo.
As políticas públicas também falham em garantir continuidade. Programas como Pronatec e Mediotec perderam orçamento. Sem planejamento consistente, a expansão da educação técnica se torna ineficaz.
Por fim, a ausência de orientação profissional nas escolas é um desafio. Jovens raramente têm acesso a instrumentos para refletir sobre seus talentos e interesses. Sem esse apoio, tomam decisões com base em percepções limitadas.
Reverter esse quadro é tarefa nacional. É preciso reconstruir a narrativa, valorizar a educação técnica, informar famílias, integrar sistemas de ensino e retomar políticas públicas. O Brasil precisa de técnicos bem formados. Mas, para isso, os jovens precisam, antes de tudo, conhecer e acreditar nesse caminho.

