Por Marcia Barbosa, reitora da UFRGS, e Pedro Costa, vice-reitor da UFRGS
A UFRGS aprovou em seu Conselho Universitário a expansão para a serra gaúcha, com um novo campus em Caxias do Sul. Na sequência, os cursos devem ser aprovados no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Um momento oportuno para refletir sobre esta instituição secular. Nascida das escolas de saber, do norte da África, no século 9, e da experiência da Universidade de Bolonha, criada no século 11, a universidade foi concebida como espaço de criação, guarda e transmissão do conhecimento. No século 19, após a revolução francesa, Napoleão consolidou as universidades politécnicas, que se tornaram motores do progresso industrial e da administração pública.
Ao longo dos séculos, a universidade acompanhou as grandes transformações do mundo; produziu ciência, cultura e tecnologia. Mas, sob a lente de Max Weber, sua autoridade era meramente simbólica. Por isso, buscou o apoio das autoridades reconhecidas: as da Igreja, as do Estado e as do mercado. Esse processo de legitimação acabou por concentrar o capital do conhecimento nas mãos de algumas elites sociais e culturais. Mesmo assim, o conhecimento sempre encontrou brechas e sobreviveu a censuras, perseguições e crises.
É justamente o espírito crítico que é capaz de gerar o conhecimento disruptivo
Agora, no século 21, a universidade tornou-se centro da inovação tecnológica e da transformação social, cultural e ambiental, revelando à sociedade três verdades inconvenientes: 1) o conhecimento para ser potencializado deve ser aberto e acessível a todas as pessoas; 2) a equidade social, racial e de gênero gera mais que justiça social, gera eficiência; e 3) o desenvolvimento econômico, desde a Revolução Industrial, ameaça a própria sobrevivência da humanidade e precisa ser repensado.
A força da universidade que questiona gerou uma reação bem articulada, cujo objetivo é substituí-la por um modelo de informação sem formação, como provam a proliferação de instituições de ensino fast food, complementadas, recentemente, pelo treino acrítico produzido pelas big techs. É justamente o espírito crítico, entretanto, que é capaz de gerar o conhecimento disruptivo. O nosso país não seria um dos maiores produtores de soja se cientistas trabalhando aqui não tivessem rompido com os modelos tradicionais estadunidenses e inventado uma produção made in Brasil.
Diante disso, cabe a pergunta: como esta instituição pode sobreviver? A resposta está fora dos muros. É preciso buscar a sociedade. O futuro da universidade dependerá de sua capacidade de se comunicar com a população e engajá-la neste espírito criativo. É com esta perspectiva que chegaremos na serra gaúcha, esta terra que tantas contribuições têm dado ao Rio Grande do Sul e ao Brasil.


