Por Fernando Goldsztein, fundador da The Medulloblastoma Initiative, conselheiro da Children's National Foundation e MBA – MIT, Sloan School of Management
Não se fala em outra coisa Brasil afora. O tema está em todas as rodas de conversa. Ontem, escutei meninos de quatro ou cinco anos num playground afirmando, um para o outro, que sabiam quem havia matado Odete. O fenômeno é realmente impressionante.
É claro que nada se compara à repercussão da versão original de 1988 – afinal, naquela época, não tínhamos uma mídia fragmentada pelo streaming, pelas redes sociais e pela concorrência de tantas outras plataformas. Ainda assim, a repercussão da morte de Odete neste remake de 2025 tem sido intensa e muito engajada. Mais um trabalho primoroso da Rede Globo, que colhe o reconhecimento através dos elevados índices de audiência e da enorme discussão pública que a trama desperta.
Nesta sexta-feira, finalmente, teremos o desfecho deste crime. A angústia chegará ao fim.
A pergunta que não quer calar finalmente terá uma resposta, e com isso, dezenas de milhões de brasileiros, do Oiapoque ao Chuí, poderão dormir sossegados.
Quem dera, tal qual o assassino de Odete, outros temas também despertassem o interesse dos brasileiros. Refiro-me a questões que não têm vínculo ideológico nem político; que não são de esquerda e nem de direita; mas que seguem sem resposta, ano após ano, engessando o nosso presente e condenando o nosso futuro.
Refiro-me a questões que não têm vínculo ideológico nem político
— Por que o Brasil tem mais partidos políticos do que ideias coerentes?
— Por que a sociedade aceita, passivamente, tantos privilégios às castas mais elevadas do poder público?
— Por que cerca de 70% dos brasileiros não lembram em quem votaram para deputado estadual e federal? Não estaria na hora de uma reforma política?
— Por que a corrupção se repete com os mesmos nomes, apenas com novas siglas e slogans?
— Por que o Estado brasileiro é tão caro e tão ineficiente?
— Por que cerca de 95% das receitas federais estão comprometidas com despesas obrigatórias? Não estaria na hora de uma reforma administrativa que devolva ao país a capacidade de investir?
— Por que milhões de brasileiros ainda vivem sem saneamento básico, em pleno século 21, enquanto o país gasta fortunas em obras superfaturadas e privilégios?
— Por que no Brasil ainda toleramos a essa impunidade – do desrespeito à faixa de segurança aos desvios de milhões?
— Por que o "jeitinho brasileiro", que tanto celebramos, continua corroendo nossa ética coletiva?
Enquanto aguardamos ansiosamente saber quem matou Odete Roitman, rogo para que não deixemos de fazer as perguntas acima. Pois, é justamente a falta destas respostas que vai matando, dia após dia, o que ainda nos mantém de pé: a esperança.




