Por Fábio Bernardi, sócio-diretor da HOC
Nos últimos anos, profissionalmente ouvi muito que “ninguém mais assiste à TV”. O impacto do Youtube, a chegada dos streamings e a queda na audiência facilitaram o vaticínio. Mas para cada problema complexo há sempre uma resposta simples – e errada. Quem morreu não foi a TV, foi Odete Roitman.
Vale Tudo é um fenômeno, é de agora e não é por acaso. A pergunta “Quem matou Odete Roitman?” trouxe mais de R$ 200 milhões em patrocínios, 23 anunciantes de peso, 87 ações de merchandising e 287 milhões de interações digitais. Mais de 125 milhões de brasileiros disseram ter assistido à novela. Mas o que realmente importa, e faz diferença, não é a audiência, é a construção de uma ponte entre o hábito da mídia tradicional e o comportamento digital do público. Não é só quem está vendo a novela, é quem está falando dela. O país assiste ao vivo a um exemplo didático de integração entre o alcance coletivo da TV e a personalização do mundo digital. Vale Tudo mostra que tudo vale quando se constrói um modelo híbrido de narrativa e dados, emoção e algoritmo.
'Vale Tudo' é um fenômeno, é de agora e não é por acaso
Desde 2023, o tempo médio de permanência nas redes sociais vem caindo, mas isso não impediu que o maior caso de audiência, conversa e faturamento acontecesse justamente neste momento. A Globo entendeu que a TV poderia continuar a ser o que sempre foi – uma mediadora cultural do país. Ela só precisava sair do encastelamento de ser uma tela pregada na parede da sala. E com a DTV+, a partir de 2026 virá um salto nessa direção, com uma TV melhor, mais bonita, interativa e feita para cada um.
Claro que Vale Tudo também se beneficiou da nostalgia afetiva de uma geração que viu o original e impulsionou o remake. Mas deixa de legado a melhor equação para o conteúdo daqui pra frente: nasce na TV, viraliza nas redes sociais e ganha vida nas ruas, nos bares e nas conversas cotidianas.
Agora, disruptivamente genial mesmo seria a novela terminar com Odete Roitman viva e um lettering na tela: “Continua...”. Que tal uma Vale Tudo 2?




