Por Lucas Zaffari, CEO do Instituto Cultural Opus
Um ano se passou desde a enchente que devastou comunidades inteiras no Rio Grande do Sul. Ainda estamos reconstruindo casas, escolas, ruas e espaços de convivência. Mas há algo tão vital quanto o concreto e os tijolos: reerguer sonhos, restaurar esperanças e devolver o senso de pertencimento, especialmente às crianças. É nesse ponto que a cultura se torna indispensável. Sei que isso não é novidade, mas trago um lembrete necessário: o acesso à cultura transforma vidas. E nunca foi tão urgente repetir o óbvio.
Não podemos permitir que o acesso à cultura seja visto como luxo
Crianças que têm acesso à música, à leitura, ao teatro, à dança, ao cinema, à arte, de qualquer forma, desenvolvem mais do que habilidades. Elas desenvolvem autonomia, identidade, empatia e imaginação. Elas conseguem vislumbrar futuros diferentes daqueles impostos por uma realidade difícil.
Em tempos de crise, a tendência é priorizar o que parece urgente: alimento, abrigo, segurança. E é claro que isso é justo e necessário. Mas não podemos permitir que o acesso à cultura seja visto como luxo ou secundário. Cultura é alimento da alma e da mente. Democratizar o acesso à cultura não é assistencialismo. É responsabilidade, política pública e visão de futuro. Por isso, é preciso garantir que as crianças tenham acesso contínuo e qualificado à produção cultural. Isso não pode ser privilégio de poucos.
Passado um ano da enchente, a pergunta que fica é: que legado queremos deixar?
Reconstruir estruturas é essencial. Mas reconstruir possibilidades é ainda mais. É necessário fomentar projetos de longo prazo, estar nas escolas, apoiar artistas e criadores, viabilizar ações em territórios periféricos e respeitar as múltiplas expressões culturais do país.
Investir em cultura é investir em gente. Quando a cultura se alia à inclusão e à educação, ela passa a ser uma ferramenta concreta de mudança social. Precisamos seguir construindo caminhos que levem a cultura para onde ela não chega. Porque quando uma criança tem acesso à cultura, ela descobre que pode transformar o mundo, começando pelo seu.