Por Erasmo Carlos Battistella, agricultor, empresário e presidente da BeB
Nasci na agricultura familiar, na minha Itatiba do Sul. Estudei e trabalhei no agro, seja como produtor, seja como empresário. Nas últimas quatro décadas, venho acompanhando a transformação desse setor que é o grande gerador de riquezas do país. Quem diria que nossa agricultura — movida a velhos tratores, há 30 anos — seria responsável por quase 30% do PIB?
Aí está o valor do agro brasileiro: não há outro segmento na nossa história que tenha crescido tanto em tão pouco tempo, impactando um número de pessoas tão significativo. Nessa trajetória, há um Estado protagonista: o RS. Aqui surgiram o cultivo do trigo e da soja, o plantio direto e outras inovações. Aqui formamos um número enorme de agrônomos, veterinários e outros profissionais que trabalharam de sol a sol, desbravando o Brasil e construindo a prosperidade.
Porém, quis a história que o Rio Grande resiliente fosse o primeiro Estado a provar o gosto amargo das mudanças climáticas. É verdade: nosso clima nunca foi para os fracos. Mas, nos últimos anos, a situação se tornou ainda mais aguda. Em cinco anos, foram quatro secas e duas enchentes — uma delas a maior de todos os tempos. E sabemos que o clima é simplesmente tudo para a agricultura. Com isso, o RS penou com colheitas magras.
O que foi oferecido pelo governo ainda não atende às expectativas
Ao lado da questão climática, enfrentamos a elevada taxa de juros. Essa soma de fatores aumenta ainda mais a pressão sobre os agricultores gaúchos, que sofrem com suas famílias um desafio histórico. Por isso, devemos respeitar o direito da nossa gente do campo de protestar. Com absoluta legitimidade, eles pedem ajuda. A solução não é simples, mas deve partir do equilíbrio e ser rápida.
Acredito que há caminhos para se avançar. O que foi oferecido pelo governo ainda não atende às expectativas diante da grave situação. Este Estado espera das lideranças uma atitude coerente com a história de quem foi o pioneiro do agronegócio brasileiro. A chuva voltou, e o agricultor precisa fazer o que sabe: produzir alimentos e energia renovável para todos. Não há mais tempo para esperar: precisamos resolver o passado e proteger o futuro.