Por Leandro Ciulla, médico psiquiatra
Vivemos tempos em que até o descanso parece precisar ser justificado. O que antes era simples prazer, como ler um livro, caminhar sem rumo, pintar algo só por pintar, agora se mede, compara, compartilha. A lógica do desempenho se infiltrou nos momentos mais íntimos e leves, e o lazer deixou de ser refúgio. Tornou-se mais um campo de exigência, em que só vale se for útil, produtivo ou impressionante. Há um cansaço que não vem do excesso de tarefas, mas da ausência de permissão para simplesmente ser.
Permitir-se ser comum é quase um ato de resistência
Na clínica psiquiátrica e na vida, vemos cada vez mais pessoas esgotadas, não pelo excesso de trabalho, mas pela tentativa de serem excepcionais até no descanso. Corpos tensos, mentes inquietas, noites sem sono, tudo em nome de uma promessa silenciosa: se você for bom o bastante, talvez sinta que merece existir. Mas esse merecimento nunca chega, porque a régua se move o tempo todo.
Certa vez Einstein escreveu: "Uma vida tranquila e modesta traz mais felicidade do que a busca pelo sucesso, combinada com constante inquietação." Há sabedoria nesse olhar. O impulso de fazer mais disfarça, às vezes, a dor de não saber como existir sem provar-se. Como se só houvesse valor no fazer, e nunca no ser.
Permitir-se ser comum é quase um ato de resistência. Há um tipo de saúde que não se mede em resultados, mas em respiros. E talvez, no fim, seja isso que mais estejamos precisando: menos pressão, mais presença.