Por Francisco Turra, ex-ministro da Agricultura e presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
É quase consenso: a política necessita renovar seus quadros, no topo e na base. É o convívio da experiência com aprendizado que assegura a continuidade preservando o dinamismo e a atualização constante.
Tive longa experiência política. Fui prefeito, deputado estadual e federal e ministro. Presidi a Fundação Milton Campos, dedicada à formação dos quadros do Progressistas. Depois, retornei à atividade privada, por considerar concluída minha tarefa. Era hora de abrir espaço aos que chegavam e ascendiam para o natural processo de renovação.
Denuncio um sistema que dá vantagens a quem transforma o voto dos eleitores em seu patrimônio
Se não for para isso, por que formar quadros novos se a evolução só se der sobre cadeiras vacantes? É com pesar que vejo tal equívoco se consolidar e a perenização se tornar o objetivo de tantas "carreiras" políticas. A sociedade opina por renovar, mas seus representantes se opõem com todas as forças.
Não qualifico a representação em escala inversamente proporcional à idade do representante. Denuncio um sistema que dá vantagens a quem transforma o voto dos eleitores em seu patrimônio. Negociá-lo em proveito pessoal para se perpetuar no poder é o passo seguinte de um sistema que impede a depuração da representação e da política.
Se alguém sonhou que o financiamento público eleitoral favoreceria a depuração e renovação dos quadros, a experiência mostrou o oposto. Perpetuaram-se as bancadas dinásticas, ganharam força as corporações, surgiram as emendas de vários feitios e ampliou-se a oferta de cargos na máquina estatal.
Os problemas estruturais da política como ela é passam despercebidos dos cidadãos, fonte de onde emana o poder. Estes se queixam das consequências, mas, ocupados com seu próprio cotidiano, vivem longe das causas.
Não percebem uma realidade que vi de perto: quanto maior o tempo dentro da bolha da política, maior a tendência de que ela sirva como proteção e afastamento do representante em relação à realidade dos representados. É precisamente por isso que a sociedade, entre outras tantas perdas, já se vê privada de boa parte da sua liberdade.