
Morreu em 23 de maio de 2025, aos 81 anos, Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos da história contemporânea e um dos olhares mais potentes da imagem nos séculos 20 e 21.
Brasileiro de Aimorés, Minas Gerais, Salgado transformou a fotografia em instrumento de denúncia, de arte e de empatia — e nos ensinou a ver o outro com mais humanidade.
Economista por formação, fotógrafo por vocação, Salgado descobriu a imagem na maturidade, aos 29 anos, quando viveu na França com sua companheira de toda a vida, Lélia Wanick Salgado. Foi ela quem o apresentou à câmera. Desde então, nunca mais parou de olhar o mundo através da lente — mas com um olhar que ultrapassava a superfície.
Salgado passou pelas principais agências de fotografia do mundo — Sygma, Gamma, Magnum — até criar, junto de Lélia, a Amazonas Images, uma agência voltada exclusivamente à gestão de sua obra. Seu trabalho se notabilizou pelo preto e branco profundo, pelas composições densas e por uma ética fotográfica baseada no respeito ao fotografado.
Durante décadas, percorreu mais de 100 países documentando o sofrimento e a resiliência humana. Suas séries Trabalhadores (1993), Êxodos (2000) e Gênesis (2013) formam uma trilogia visual que mapeia tanto o mundo que criamos quanto o que ainda sobrevive à nossa intervenção. Em Êxodos, por exemplo, retratou a migração forçada de milhões de pessoas pelo planeta — vítimas de guerra, fome, perseguição e crise ambiental — revelando rostos que a sociedade insiste em apagar.
Nos últimos anos, voltou seu olhar à floresta e aos povos originários com o projeto Amazônia, uma ode à preservação ambiental e um grito contra a destruição da maior floresta tropical do planeta. Seu compromisso com a natureza também se concretizou no projeto de reflorestamento da fazenda de sua família no Vale do Rio Doce, que resultou na criação do Instituto Terra, referência mundial em recuperação ambiental.
Salgado não apenas documentava. Ele contava histórias. E mais do que isso: testemunhava. Estava onde a vida era mais extrema, onde o sofrimento era mais agudo, onde a beleza ainda resistia. Ele acreditava na imagem como linguagem universal — uma forma de provocar consciência, indignação, empatia.
Suas fotografias foram publicadas em livros, expostas nos maiores museus e galerias do mundo e reconhecidas com prêmios como o Príncipe das Astúrias, o World Press Photo e a nomeação como membro da Académie des Beaux-Arts da França.
Mas, mais do que os prêmios, foi sua capacidade de revelar o essencial — o humano, o ancestral, o coletivo — que o consagrou. Seu legado ultrapassa a fotografia: é parte do imaginário ético e visual do nosso tempo.
Sebastião Salgado se despede do mundo deixando imagens que não se apagam, histórias que continuam a ecoar e uma ausência que pesa como a perda de um grande mestre. Seu trabalho continuará a nos inspirar, a nos incomodar, a nos lembrar que fotografar é também um ato de cuidar do mundo.