PorGustavo Victorino, deputado estadual (Republicanos)e presidente da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da Assembleia Legislativa
Mas afinal, por que o Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) assusta quem deveria exatamente com ele vibrar? A proposta, que carrega o argumento enviesado de separatista, traz no seu bojo muito mais do que o interesse financeiro de reequilíbrio na distribuição de recursos públicos.
Rediscutir o pacto federativo, que hoje serve apenas a projetos político-ideológicos, virou tabu, exatamente porque busca um equilíbrio no rateio dos recursos federais, que se perdeu pelo oportunismo de regiões e políticos beneficiados por essa distorção. Enquanto alguns Estados recebem menos de um terço do que arrecadam, outros chegam a receber até seis vezes o que arrecadam em benesses diretas da União.
O norte/nordeste brasileiro tem menos de 20% do PIB nacional e arrecada 18% das receitas federais, mas essa mesma região tem quase 50% de deputados na Câmara Federal e dois terços do Senado. Essa fragmentação geopolítica entregou a essa região o poder de estabelecer a distribuição de investimentos que, ironicamente, ao longo de décadas, nunca trouxe desenvolvimento ou melhores condições ao povo nortista e nordestino.
Os gaúchos têm dezenas de bilhões de reais retirados anualmente de sua economia
O cenário é agravado ainda mais pelo componente político-ideológico de dominação por hipossuficiência social, com o qual o pouco passa a ser tudo para quem tem nada. A quem interessa essa carência e dependência do poder central?
A tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul tornou esse cenário ainda mais assustador. Os gaúchos têm dezenas de bilhões de reais retirados anualmente de sua economia e direcionados ao caixa único do governo federal. Ao virar as costas para o sul do país, o tal pacto federativo mostra a sua face mais cruel e injusta. Mesmo soltando as amarras da ideologia, se vê diante de um questionamento que funciona como combustível para uma rediscussão sobre a distribuição de verbas astronômicas às regiões que nunca responderam com desenvolvimento humano e progresso.
Não procuremos culpado; mas ele existe e tem um nome: o sistema. Afinal, o peru jamais votaria no Natal. E é ele, o sistema, quem teme o Cosud!