Por Nivio Lewis Delgado, presidente da Fundacred
A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) tem papel estratégico nos sistemas educacionais dos países com maiores ganhos de produtividade nas últimas décadas. No Brasil, porém, persiste resistência cultural e institucional em reconhecer seu potencial como porta de entrada qualificada para a inclusão produtiva e base sólida para o ensino superior.
Segundo dados do Insper, jovens com formação técnica de nível médio têm rendimento até 32% maior ao longo da vida em relação aos que concluem apenas o ensino médio regular. Além disso, estudos apontam que triplicar as matrículas em cursos técnicos poderia elevar o PIB brasileiro em até 2,32%.
Em países como Alemanha e Austrália, entre 40% e 50% dos jovens de 15 a 19 anos estão matriculados na EPT. No Brasil, essa proporção é de apenas 11%. Iniciativas como o Pronatec e a expansão dos Institutos Federais ajudaram a ampliar a oferta, mas o acesso ainda é restrito frente à demanda e à necessidade de aumento da produtividade.
No mercado de trabalho, os impactos são igualmente positivos: egressos da EPT têm taxa de empregabilidade cerca de 5% superior à média dos concluintes do ensino médio regular. Esses dados desconstroem a ideia de que a EPT seria uma opção de menor prestígio. Pelo contrário, ela insere os jovens mais rapidamente no mercado e os prepara para escolhas acadêmicas futuras.
A valorização da EPT deve ser, portanto, uma prioridade compartilhada
Nesse cenário, iniciativas como programas de crédito educacional para cursos técnicos são fundamentais para democratizar o acesso à EPT. O modelo permite ao estudante pagar parte do valor durante o curso e o restante após a formatura, com taxas acessíveis e flexibilidade, removendo uma das maiores barreiras de entrada: o custo imediato da formação.
É preciso superar a falsa dicotomia entre educação técnica e ensino superior. A trajetória educacional contemporânea é marcada por múltiplos ciclos e transições. O curso técnico pode — e deve — ser entendido como um ponto de partida, e não um ponto final. Ao fortalecer a EPT como base para aprendizagem ao longo da vida, ampliam-se não só as oportunidades individuais, mas também o capital humano e a produtividade de todo o país.
Uma nação que oferece alternativas viáveis de formação e trabalho desde os primeiros anos da juventude não apenas reduz desigualdades, mas também promove crescimento sustentável. A valorização da EPT deve ser, portanto, uma prioridade compartilhada entre governos, instituições de ensino, empresas e sociedade civil.