Por Mauro Moreira, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Sul (CRMV-RS)
Passado um ano da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, ainda não temos um plano estadual de desastres estruturado, conforme exigem as normativas internacionais. Não há treinamento contínuo para os profissionais que atuam na linha de frente — brigadistas, bombeiros, agentes da Defesa Civil —nem para equipes de médicos-veterinários, que tiveram papel essencial no resgate e atendimento de milhares de animais, inclusive silvestres.
O Estado precisa de um mapa de emergência claro, detalhado, com definição de responsabilidades, rotas de fuga, locais de acolhimento e canais de acionamento imediato. Em caso de uma nova tragédia, para onde irão os animais de pequeno, médio e grande porte? Quais clínicas, hospitais e abrigos estão aptos a receber esses animais? Quem responde por cada etapa da mobilização?
É preciso mapear o território, treinar as equipes e preparar estruturas regionais
No episódio de 2024, vimos o improviso tomar conta. A sociedade civil se mobilizou como pôde, voluntários fizeram o possível (e o impossível) e o poder público respondeu com medidas emergenciais, muitas delas importantes, mas insuficientes.
Do que o Rio Grande do Sul precisa, com urgência, é de um plano robusto, preventivo, que siga parâmetros internacionais. É preciso mapear o território, treinar as equipes, preparar estruturas regionais para receber e cuidar dos animais, sejam domésticos, de produção ou silvestres. Castrações e atendimentos pontuais são ações bem-vindas, mas não substituem a construção de uma política pública séria, contínua e coordenada.
Não podemos mais depender da sorte. Precisamos de estratégia, de preparo e, sobretudo, de compromisso. O CRMV-RS segue à disposição para contribuir com esse processo, com base na experiência adquirida em campo e no conhecimento técnico que possui. A tragédia de 2024 deixou marcas profundas. Que ao menos sirva de lição.