Por Daniel Freitas, coordenador do Ambulatório de Uro-oncologia da Santa Casa de Porto Alegre e diretor da Andrologia Moinhos
Há uma década, o câncer de bexiga era um tema pouco abordado nos grandes congressos médicos. Em 2015, no Congresso Americano de Urologia (AUA), o assunto ocupava uma fração mínima das discussões. Hoje, em 2025, essa realidade mudou drasticamente: o tema passou a ocupar 23,4% do tempo das plenárias dedicadas ao câncer no AUA, refletindo o avanço significativo na compreensão e no tratamento da doença.
Investimentos impulsionaram o desenvolvimento de novas terapias e tecnologias de tratamento
Esse progresso é resultado de investimentos substanciais em pesquisa. Nos Estados Unidos, os recursos destinados a estudos em câncer de bexiga cresceram de US$ 150 milhões em 2015 para mais de US$ 500 milhões em 2025. No Brasil, o crescimento foi de US$ 10 milhões para US$ 50 milhões no mesmo período. Esses investimentos impulsionaram o desenvolvimento de novas terapias e tecnologias de tratamento.
A imunoterapia, por exemplo, consolidou-se como uma abordagem eficaz, com medicamentos como nivolumabe, pembrolizumabe e durvalumabe mostrando resultados promissores em diferentes estágios da doença. Além disso, terapias-alvo como o erdafitinibe e tecnologias inovadoras, como os anticorpos conjugados a drogas (ADCs) hoje oferecem esperança a pacientes que antes tinham poucas alternativas.
No Rio Grande do Sul, o câncer de bexiga também merece atenção. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para 2023, o Estado registra uma taxa de incidência de 10,43 casos por 100 mil homens e 3,50 por 100 mil mulheres, colocando-o entre os Estados com maiores taxas no país. Esses números destacam a importância de políticas públicas focadas em prevenção, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos avançados.
O avanço nas pesquisas e tratamentos é promissor, mas é fundamental que essas inovações cheguem a todos os pacientes, independentemente de localização ou condição socioeconômica. A equidade no acesso à saúde deve ser uma prioridade.
O câncer de bexiga, antes negligenciado, agora assume um papel central na oncologia. Com o contínuo apoio à pesquisa e a implementação de políticas de saúde eficazes, é possível transformar o cenário da doença.