Por Flávio Nascente dos Santos, empresário e diretor-executivo da WE CAN BR
O apagão de mão de obra que corrói nossas empresas é apenas um dos sintomas da crise do trabalho. Essa crise complexa foi acelerada pela tecnologia e agravada pela inteligência artificial, refletindo uma crise maior da humanidade: uma crise de valores, de fé e de esperança no próprio ser humano.
Para muitos, o trabalho é um fardo. A solução que adotam é vê-lo como instrumental, um recurso para pagar as contas ou um meio para adquirir bens de consumo. Mas isso esvazia seu sentido espiritual. O foco passa a ser os direitos, enquanto que os deveres ficam em segundo plano. Soma-se a isso o problema da relação entre ser e ter, sobretudo em relação aos jovens. O ter é importante, mas sem a devida maturidade, ele leva apenas ao consumismo. A verdadeira mola propulsora está no ser: é preciso orientar os jovens para construírem a si mesmos e essa construção passa pela consciência de ser antes de ter.
Líderes precisam construir culturas portadoras de sentido
A tecnologia facilita a vida, mas isola. Se não impusermos limites, até onde esse excesso nos levará? Se tudo é fácil, qual o sentido do existir? Para onde vai o valor social que fundamenta qualquer sociedade? Além disso, ela acelera o mundo, empurrando-nos para um ritmo frenético sem espaço para reflexão, apenas reação. Não vivemos para criar e inovar, mas para acompanhar essa velocidade imposta.
Diante disso, a responsabilidade recai sobre os líderes. Eles precisam construir culturas portadoras de sentido. Uma cultura que, de um lado, ofereça respeito e reconhecimento e, de outro, motive e desafie as pessoas a contribuir e ser exemplo. O caminho para enfrentar a crise do trabalho passa pela criação de um novo sentido para ele. Um sentido que devolva às pessoas a dignidade de seus afazeres e as faça enxergar sua importância profissional. Afinal, a novidade não brota nos caminhos já trilhados, mas nos jardins secretos da mente empreendedora de quem cria.