Por Gabriel Wainer, apresentador do @RivoNews
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, tornou público o relatório do inquérito que abalou a República na última semana. O documento indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Os indícios são claros: houve uma intensa movimentação, usando o aparato do Estado, para inviabilizar a posse de Lula. Apesar disso, é importante lembrar: Lula tomou posse. Mas que houve planejamento para impedi-la, houve. Se vivêssemos num país com segurança jurídica e uma Justiça apolítica, e não apocalíptica, este inquérito não dividiria a nação. Estaríamos todos indignados com a mera cogitação da interrupção da democracia por agentes públicos, civis e militares. Mas não é o caso.
No texto que autorizou a operação da Polícia Federal na semana passada, Moraes foi o protagonista absoluto de sua própria decisão
Como esperar que a população, aparvalhada pela polarização estúpida que nos assola como consequência de décadas de ineficiência da classe política à disposição, confie num ministro do Supremo que, ao vestir sua toga, se vê como arauto absoluto da democracia e não se constrange em ser vítima, promotor e juiz em um mesmo inquérito?
No texto que autorizou a operação da Polícia Federal na semana passada, Moraes foi o protagonista absoluto de sua própria decisão. Foram 44 citações a si mesmo. O presidente da República e seu vice, que também eram alvo do grupo que queria se manter no poder pela violência, aparecem 16 e 12 vezes, respectivamente.
A história do Brasil recente é pautada por frustrações profundas da nossa gente com o Judiciário. As operações Satiagraha e Lava-Jato são exemplos cristalinos disso. Os crimes que elas investigaram ocorreram, mas as irregularidades dos protagonistas anularam todo o processo e todos seguiram com suas vidas.
O destino de um país que não acredita na sua classe política é devastador, e somos todos testemunhas oculares deste flagelo. Mas o destino de um país que não acredita na sua Justiça — não porque não quer, mas porque não encontra subsídios para isso — é ainda mais tenebroso. Como diria Ruy Barbosa, contra a Justiça, não há a quem recorrer.