O maior rigor que passará a ser observado no modelo de distanciamento controlado em vigor no Estado é, sobretudo, prudente. Os indicadores mais recentes sobre a disseminação do novo coronavírus, com aumento da quantidade de casos, de internações em UTIs e de vítimas fatais, apontam para sensatez na discussão sobre possíveis novas medidas de flexibilização. Titubear, neste momento, pode levar a um descontrole da pandemia no Rio Grande do Sul, onde subsiste um quadro mais confortável em relação a outras regiões do país, ainda que baseado em números de dias atrás. Mas, com o recrudescimento da covid-19 em diversas regiões gaúchas, é ajuizado tornar mais rígidos os critérios para o estabelecimento das diferentes cores de bandeiras que indicam maior ou menor grau de flexibilização de atividades.
A contribuição de cada cidadão é imprescindível para que o Rio Grande do Sul não precise retroceder de forma mais drástica
Como alertou o governador Eduardo Leite, não se pode descartar que, neste fim de semana, as autoridades que avaliam constantemente os dados tenham de colocar alguns pontos do Estado sob a bandeira vermelha, que significa risco alto. Boa parte do aumento significativo de casos de coronavírus no Rio Grande do Sul, o que inclui Porto Alegre, pode ser atribuída à percepção equivocada de parcela da população de que se caminhava paulatinamente para uma "volta ao normal". Essa impressão distorcida levou muitos gaúchos infelizmente a relaxarem nos mais básicos cuidados quando, pelo contrário, deveriam ser redobrados. Por isso, não surpreende que, infelizmente, a prefeitura da Capital tenha sido compelida a determinar novas restrições na tarde de sexta-feira.
A advertência do governo serve para que a população se conscientize outra vez e volte a ter um comportamento compatível com o momento. O Estado atravessa o período mais crítico desde o início da pandemia e é esse o quadro que precisa ser compreendido por todos, uma vez que muita gente, de forma irresponsável, não usa máscara em espaços públicos e se descuidou de hábitos como higienizar frequentemente as mãos, justamente quando aumenta a circulação de pessoas nas ruas.
O plano de distanciamento controlado é sólido, mas para ter sucesso necessita do engajamento generalizado. A pesquisa da Universidade Federal de Pelotas mostra que o vírus circulou relativamente pouco na maioria das cidades gaúchas. O que por um lado é bom também preocupa por indicar um alto potencial de crescimento das infecções se não houver mais responsabilidade.
O Estado segue com uma situação relativa melhor em comparação com o restante do Brasil e a condução da crise sanitária pelas autoridades gaúchas mostra-se séria, ao contrário do plano federal, em que o presidente Jair Bolsonaro permanece alienado da realidade ao pregar, por exemplo, que pessoas invadam e filmem hospitais para verificar se existem leitos vazios, o que seria um indício de que o problema não seria tão sério. Mostra uma incrível desconexão com os fatos, em um país com um número de casos confirmados acima de 800 mil e mais de 40 mil mortos. Certa folga na disponibilidade de leitos é o que se busca, caso o quadro venha a se agravar.
A contribuição de cada cidadão, portanto, é imprescindível para que o Estado não precise retroceder de forma mais drástica, voltando a paralisar uma série de atividades. Este cenário indesejado, com maior risco à saúde dos gaúchos, seria ainda um desastre para a economia de várias regiões.