Vemos que cada povo tem uma cultura, um jeito de ser, a organização dos alemães, a expansividade dos italianos, a disciplina dos japoneses... Qual seria o jeito de ser que sintetiza o brasileiro? Esse assunto sempre me fascinou, mas como identificar a "alma" do Brasil, tamanha a diversidade regional?
Gaúcho, por exemplo, começa a conversa pelo fim, pela conclusão, para convencer rapidamente o outro da sua opinião já formada. Se a outra pessoa não se convence de imediato, então vem o desenvolvimento, a fundamentação. Se continua difícil, o gaúcho vai então às origens do assunto para começar a história desde o início e persuadir o outro de que a sua conclusão é a correta.
Mineiro, ao contrário, começa contando uma história bem do início, sem pressa, cuidando com os olhos se você está acompanhando. Depois da introdução, vem o desenvolvimento e, se você não estiver acompanhando na mesma direção em que ele está conduzindo a história, o mineiro nem conclui. Ele espera você estar em sintonia com ele para chegar ao fim da história, senão vai ficar para uma ocasião mais propícia. Baianos e pernambucanos são vizinhos, mas poderiam ser considerados de países diferentes.
Os baianos têm um jeito totalmente próprio de ser, são tão sofridos quanto alegres, guardam no íntimo seus sofrimentos (que quem conhece descobre por um olhar mais profundo e empático) e mostram só a alegria de viver e de se divertir. O tempo todo gostam de estar "perturbando" os outros, que é como eles chamam "folgar" com os amigos, "zoar", brincar. Os pernambucanos, mesmo gostando de brincar, são mais estressados. Pernambuco é a São Paulo do Nordeste. Um primo gaúcho que mora lá me comentou que "quem acha que o gaúcho é metido a valente, não conhece o pernambucano". Eles levam as coisas mais a sério do que na brincadeira.
Claro que as pessoas são diferentes, não podemos reduzir a caricaturas o povo de cada região, mas é esforço fascinante tentar compreender a nossa multiplicidade de origens e jeitos de ser, com suas origens históricas. Nelson Rodrigues concluiu que o que caracteriza o brasileiro é a mistura, uma espécie de colcha de retalhos de várias "almas" regionais, de vários jeitos de ser, de viver, de experimentar o mundo, e que portanto quanto mais misturados, mais brasileiros somos.