Por Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte e secretária do Conselho Editorial da RBS
Há um fenômeno no mundo que se espalha e desafia o jornalismo: o news avoidance, ou evitação de notícias. Ocorre quando as pessoas se afastam do noticiário, por diferentes motivos. O principal deles é não querer ter contato com assuntos negativos. Guerra, corrupção, acidentes, catástrofes. Os temas positivos, às vezes, são raros em um telejornal, num programa de rádio, na capa de um site ou numa edição impressa de um jornal.
Algumas vezes, uma história positiva está escondida no avesso da tragédia
Na RBS, este é um assunto tratado no Conselho Editorial e nos grupos de editores. O equilíbrio de boas e más notícias é uma busca obstinada. Somos caçadores de boas histórias e, quando as identificamos, elas ganham lugar de destaque. A cada dia, nos questionamos se o noticiário está pesado, se estamos realmente dando “bom dia” ou “boa noite” ao público. A busca de boas notícias é um mantra para cada editor.
Algumas vezes, uma história positiva está escondida no avesso da tragédia. Na enchente, um relato de superação e sobrevivência. Em uma crise econômica, o empreendedor que reabriu seu negócio. Encontrar luz em meio ao caos também é papel do jornalismo. Cabe a nós, além de informar, restaurar a confiança coletiva, reduzir o pessimismo e reafirmar a esperança de que o amanhã pode ser melhor.
Na quarta-feira de manhã, no programa Atualidade, da rádio Gaúcha, Andressa Xavier e Rosane de Oliveira refletiram sobre esta busca por boas histórias. Elas se referiam ao terrível acidente, na terça, perto da Arena do Grêmio, em que Eduarda Correa, 23 anos, sobreviveu soterrada por toneladas de serragem, quando uma carreta tombou sobre o carro que dirigia. Durante um tempo exasperante, os ouvintes acompanharam ao vivo o drama de Eduarda, presa, mas consciente, que falava por celular com o noivo, Gabriel Zanettin, 25 anos, e com os bombeiros, socorristas e policiais que a resgataram. O próprio noivo, que trabalha a pouca distância dali, cavou com as mãos o entulho, para acelerar a busca.
“Ela pediu desculpas, achando que não ia conseguir”, contou Gabriel. Eduarda conseguiu. Sua história é um lembrete de que a vida insiste, e de que contar esses momentos é uma das razões de existir de uma redação.
Nós, jornalistas, temos o dever de contar as tragédias, sim, alertar para os perigos, denunciar o que falha. Mas não podemos nos perder nas sombras. Porque se tudo for desgraça, quem sustentará a crença de que o amanhã pode ser menos pesado?


