Por Tiago Cirqueira, Gerente-executivo de Esportes e membro do Conselho Editorial da RBS
A Copa do Mundo de Clubes provoca reflexões sobre a intersecção entre eventos esportivos e a construção da identidade cultural. No Rio Grande do Sul, onde a relação com o futebol é histórica, a cobertura jornalística assume um papel central, não apenas informando, mas também moldando percepções e narrativas. Qual o espaço dessa competição na mídia regional? A teoria do acontecimento nos ajuda a entender que eventos esportivos reúnem comunidades e ativam perspectivas coletivas. A produção de conteúdo deve ir além da descrição de fatos, capturando o significado social de cada jogo para os torcedores e os espaços em que estão inseridos.
Manteremos o nosso papel na construção de um futuro em que o esporte continue sendo um elemento essencial da identidade cultural do Rio Grande do Sul.
A análise deve considerar a dinâmica de pertencimento e como a percepção de existência do indivíduo é construída por meio do esporte. A mídia atua com foco na formação de uma relação comunitária ligada à fidelidade clubística. Contudo, em meio à redução de distâncias gerada pela hiperconectividade, essa lealdade regional está se tornando mais fluida. O público jovem, por exemplo, demonstra menor ligação com o tradicional e uma maior abertura para novas possibilidades de consumo. Isso explica o crescimento do “sportainment” observado na NBA e NFL, impactando o consumo do esporte e a fidelização de públicos. Com a fragmentação da adesão do público, construir experiências que ressoem com novas camadas sociais é essencial para atrair e reter torcedores, mas, principalmente, aumentar o número de consumidores.
No RS, o desafio é equilibrar a tradição do futebol gaúcho com as demandas de um público que busca entretenimento diversificado que transcenda divisas e fronteiras. Nesse contexto, a Copa do Mundo de Clubes pode se tornar um divisor de águas. Se veículos de comunicação capturarem e transmitirem a essência dessa experiência, poderão criar conexões e revalidar a relação com o público.
Atualmente, gerar valor também se refere à capacidade de inserir o público no mundo e traduzir as histórias globais para a comunidade local. Por isso, mais uma vez, a Gaúcha é emissora detentora de direitos com presença in loco em um grande evento. E, como parte desse cenário, é fundamental a reflexão de como revitalizar essa relação com produtos que abordam o mundo e constroem vínculos sem comprometer o localismo que fortalece a paixão identitária ligada aos clubes gaúchos. A escolha das histórias com base na necessidade do nosso consumidor e a preocupação em desenvolver formulações atrativas de como contá-las para públicos complementares são o que nos guia. E, assim, manteremos o nosso papel na construção de um futuro em que o esporte continue sendo um elemento essencial da identidade cultural do Rio Grande do Sul.