
O presidente francês, Emmanuel Macron, aceitou a renúncia de Sébastien Lecornu, o seu terceiro primeiro-ministro em um ano, nesta segunda-feira (6), horas depois de ele anunciar um novo gabinete que não impressionou a oposição e os seus aliados.
A renúncia agrava a profunda crise política na França desde as eleições legislativas de 2024, que deixaram a Assembleia Nacional (câmara baixa) sem maioria e dividida em três blocos principais: esquerda, centro-direita e extrema direita.
O líder de extrema direita Jordan Bardella já pediu a Macron que convoque novas eleições parlamentares antecipadas. A deputada de esquerda radical Mathilde Panot pediu o impeachment do presidente, cujo mandato termina em 2027.
No cargo desde 9 de setembro, o político de 39 anos revelou um governo de continuidade na noite de domingo (5), que incluiu o retorno do ex-ministro das Finanças Bruno Le Maire para chefiar o ministério da defesa.
Esta nomeação causou inquietação no partido conservador Republicanos (LR), parceiro de aliança governamental de Macron desde setembro de 2024, que havia convocado uma reunião extraordinária nesta segunda-feira.
O motivo alegado é que o presidente da LR e ministro do interior, Bruno Retailleau, não foi informado do retorno de Le Maire, que muitos consideram responsável pelo alto nível de dívida pública do país.
Ministro da defesa deixa o cargo
No início da tarde de segunda-feira, o ministro da defesa recém-nomeado anunciou que estava deixando o governo após um dia no cargo.
Le Maire disse no X ter aceitado ingressar no governo por um "senso de missão" diante de desafios geopolíticos. "Percebo que minha decisão provocou respostas incompreensíveis, falsas e desproporcionais em algumas pessoas", escreveu.
Derrota no Parlamento
— Não podemos participar deste governo — disse Xavier Bertrand, um dos pesos pesados do partido.
Lecornu e Le Maire também pertenciam a este partido antes de se juntarem às fileiras de Macron em 2017. O LR, partido histórico de direita dos ex-presidentes Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, pressionou Lecornu até o último minuto para incluir a luta contra a imigração ilegal em seu programa de governo.
Mas, apesar de ter prometido "avanços" ao assumir o cargo, também não estava claro se ele sobreviveria a um voto de desconfiança no Parlamento. Os parlamentares já haviam derrotado os seus dois antecessores: o conservador Michel Barnier e o centrista François Bayrou.
Para garantir a estabilidade, Lecornu negociou principalmente com o partido socialista de oposição, mas rejeitou as suas principais exigências: um imposto de 2% sobre a riqueza dos ultrarricos e uma reversão da impopular reforma previdenciária de 2023.
A renúncia acontece em meio a protestos liderados por sindicatos que exigem maior "justiça fiscal" e pressão dos mercados para limpar os cofres públicos. O seu antecessor, Bayrou, caiu enquanto buscava apoio parlamentar para o seu plano orçamentário de 2026, que incluía 44 bilhões de euros em cortes (US$ 51,6 bilhões) e a eliminação de dois feriados.
A bolsa de valores de Paris caiu mais de 2% no início do pregão.


