
O Congresso do Peru aprovou nesta sexta-feira (10) o afastamento da presidente Dina Boluarte, em um processo de julgamento político motivado pela crise de insegurança. Quem assume o poder é o chefe dos congressistas, José Jerí, que já tomou posse.
O pedido de destituição foi aprovado por 34 congressistas. A mesa diretora do parlamento acatou os quatro pedidos de vacância contra a chefe de Estado, alegando "incapacidade moral permanente" para liderar o Executivo.
— O país foi maltratado pelo gabinete e pela presidente. Aumentaram a extorsão e a criminalidade, mas ela continuou vivendo em uma fantasia. Merece ser punida — disse a congressista Norma Yarrow, do partido de direita Renovação Popular.
José Jerí, advogado de 38 anos, prestou juramento no cargo nas primeiras horas desta sexta-feira, para um mandato que vai até julho de 2026. O Peru realizará eleições gerais em abril.

Desde 2018, o país andino teve seis presidentes: três foram destituídos pelo Congresso, incluindo Dina. Outros renunciaram antes de sofrer o mesmo destino, um completou o mandato interino e agora Jerí assume.
Sem base parlamentar própria e sem apoio popular, a gestão de Dina foi marcada por escândalos, protestos e uma onda de extorsões e assassinatos ligados ao crime organizado, algo nunca antes visto no Peru.
— O inimigo principal está lá fora, nas ruas, nas quadrilhas criminosas, nas organizações criminosas. Eles são hoje nossos inimigos e, como inimigos, devemos declarar guerra — afirmou o novo presidente.
Dina recusou-se a comparecer ao Congresso, alegando falta de garantias no "devido processo" e pouco tempo para preparar a sua defesa, segundo o seu advogado, Juan Carlos Portugal.
Sem popularidade
Enfrentando protestos e suspeitas de corrupção, Dina não tinha margem para se manter no cargo. Durante o seu governo, fez acordos burocráticos com forças conservadoras, mas não conseguiu apoio popular nem evitar os pedidos de vacância.
Isso permitiu que sobrevivesse a várias investigações, embora a sua popularidade tenha atingido níveis mínimos.
— Em todo momento, invoquei a unidade, trabalhar juntos (...) Não pensei em mim, mas nos mais de 34 milhões de peruanos — disse a presidente após a sua destituição, em uma mensagem interrompida pela emissora estatal.
A governabilidade se deteriorou nos últimos meses devido à crise de insegurança e aos protestos em diversos setores. Lima tornou-se o centro do descontentamento. Nos últimos finais de semana, jovens do coletivo Geração Z lideraram manifestações na cidade, que resultaram em confrontos.
Na segunda-feira (7), a capital peruana ficou semiparalisada por uma mobilização de transportadores e, na quinta-feira (9), horas antes do início do processo de destituição, sicários mataram quatro músicos e um vendedor durante um show no sul de Lima.
Escândalos e processos
Dina Boluarte assumiu em 7 de dezembro de 2022, substituindo o destituído e preso Pedro Castillo. A então vice-presidente chegou ao poder após a tentativa fracassada de Castillo de governar por decreto.
A sua ascensão foi marcada por protestos reprimidos com violência, que deixaram cerca de 50 mortos, segundo organizações de direitos humanos. Ela foi investigada por esse episódio, além de outros dois processos: um por suposto abandono de cargo ao realizar uma cirurgia sem informar o Congresso, como exige a lei, e outro pelo chamado "Rolexgate", escândalo que estourou em 2024 quando apareceu usando joias de luxo não declaradas em sua lista de bens.
Com a destituição, Dina perde o foro privilegiado e poderá ser eventualmente julgada e condenada. Atualmente, os ex-presidentes Alejandro Toledo e Ollanta Humala estão presos por corrupção em um centro especial em Lima. Castillo também está detido no mesmo local, aguardando julgamento por sua tentativa de dissolver o Congresso.




