
O governo da Argentina está envolvo em um escândalo de corrupção que tem como pivô Karina Milei, irmã do presidente argentino. Gravações de áudio que estão sendo investigadas pela Justiça mostram um ex-aliado de Javier Milei acusando Karina, que ocupa o cargo de secretária-geral da Presidência, de corrupção na compra de medicamentos para a rede pública. Karina ainda não se manifestou sobre o episódio. O chefe da Casa Rosada, sede do governo da Argentina, também evitou comentar diretamente o caso, embora tenha aparecido ao lado da irmã em um evento público na última segunda-feira (25).
O caso teve início com a demissão de Diego Spagnuolo, então chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis), após a divulgação de áudios pela imprensa argentina. Nas gravações, uma voz atribuída a Spagnuolo relata um esquema de cobrança de propinas dentro da agência, envolvendo integrantes da alta cúpula do governo.
Segundo os trechos divulgados, Spagnuolo acusa Karina Milei e o subsecretário de gestão institucional, Eduardo "Lule" Menem, de exigirem pagamentos ilegais de indústrias farmacêuticas em troca de contratos para fornecimento de medicamentos ao governo. “Eles estão fraudando minha agência”, afirma a voz atribuída a Spagnuolo.
Lule Menem reagiu acusando o kirchnerismo de estar por trás de uma “operação política grosseira” para manchar a imagem do governo.
A denúncia aponta para uma rede de corrupção na Andis, com exigência de até 8% sobre o faturamento das empresas envolvidas.
O governo justificou a demissão de Spagnuolo como uma “medida preventiva”.
A Suizo Argentina, uma das principais farmácias do país, aparece no centro das acusações. A empresa, de propriedade dos irmãos Jonathan e Emmanuel Kovalivker, teria atuado como intermediária entre o setor público e grandes laboratórios. Spagnuolo afirma que foi pressionado a contratá-la durante sua gestão na Andis.
As gravações revelam ainda conversas com advogados nas quais Spagnuolo relata pressões políticas. Ele teria sido procurado por Eduardo “Lule” Menem, braço direito de Karina Milei para nomear aliados na agência.
O esquema
Diego Spagnuolo diz que existia uma rede de cobrança de propinas na Andis, com exigência de até 8% sobre o faturamento das farmacêuticas para garantir contratos com o governo. Segundo ele, Karina Milei recebia a maior fatia, entre 3% e 4%.
Eduardo “Lule” Menem é apontado como o principal operador do esquema, com apoio de Emmanuel e Jonathan Kovalivker, empresários ligados à distribuidora Suizo Argentina.
Os envolvidos
Karina Milei: irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, acusada de receber parte das propinas.
Eduardo “Lule” Menem: braço direito de Karina, é um dos principais agentes políticos do governo. Apontado como um dos principais líderes da suposta rede de corrupção.
Diego Spagnuolo: ex-chefe da Andis, suposto autor dos áudios e agora investigado.
Emmanuel e Jonathan Kovalivker: empresários da Suizo Argentina, empresa intermediária na venda de medicamentos. Emmanuel foi encontrado com US$ 266 mil em espécie e Jonathan está foragido.
Daniel Garbellini: diretor da Andis, também afastado. Seria o elo entre a agência e os irmãos Kovalivker.
A investigação
- O caso veio à tona com o vazamento dos áudios na quarta-feira passada (20), provocando uma crise inesperada no governo Milei. No dia seguinte, Diego Spagnuolo foi demitido.
- A Justiça argentina realizou pelo menos 16 buscas na última sexta-feira (22). Foram apreendidos celulares, máquinas de contar dinheiro e US$ 266 mil.
- O juiz federal Sebastián Casanello, que está cuidando do caso, proibiu a saída dos investigados do país como medida cautelar.
- O juiz determinou o bloqueio dos bens de ex-funcionários públicos e empresários investigados.
- Quatro celulares apreendidos durante os mandados de busca, incluindo o de Diego Spagnuolo, ex-chefe da Andis estão sendo analisados pela perícia para averiguar a autenticidade dos áudios.
Impacto político
O caso tem potencial de impactar aliados de Milei nas eleições legislativas de outubro e na disputa para o governo da província da capital, Buenos Aires, que ocorre daqui a duas semanas.
O Parlamento estuda abrir uma CPI para investigar as denúncias contra a irmã de Milei, o que aumentaria o desgaste político.
Martín Menem, presidente da Câmara dos Deputados e primo de Lule, defendeu os acusados: “Ponho as mãos no fogo por Lule Menem e Karina Milei", disse, classificando os áudios como uma "monumental operação política".


