
Em coluna publicada neste domingo (20) no Washington Post sobre a crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos após a taxação de 50% sobre importações brasileiras, anunciadas por Donald Trump, o jornalista Ishaan Tharoor afirma que o "bullying" praticado pelo presidente estadunidense contra o Brasil está "saindo pela culatra".
Descrito como "extremista de direita", Jair Bolsonaro aparece no texto como beneficiário direto das pressões de Trump, que, segundo Tharoor, atua para proteger seu aliado político. O colunista afirma que parte dessa articulação teria sido feita por Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, que hoje vive nos EUA e que estaria atuado em lobby contra o Supremo Tribunal Federal.
Reação de Lula bem vista
Por outro lado, Tharoor afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tido proveito político da crise diplomática gerada pelas sanções tarifárias impostas pelos Estados Unidos.
"Para Lula, cujos aliados de esquerda enfrentam uma eleição difícil em 2026, o momento é uma sorte inesperada", escreve Tharoor, ao destacar que pesquisas recentes mostram um aumento no apoio ao governo brasileiro diante da ofensiva americana.
"Pesquisas mostram um apoio renovado ao seu governo diante do bullying americano provocado por Bolsonaro", diz trecho.
Segundo o colunista, a reação firme de Lula diante do que ele classifica como um ataque à soberania nacional tem repercutido positivamente, inclusive entre setores que tradicionalmente apoiam a oposição. A coluna aponta ainda que as tarifas sobre importações brasileiras prejudicam os interesses de elites empresariais, antes aliadas de Bolsonaro, o que, segundo Tharoor, tem contribuído para o isolamento político do ex-presidente.
"O Papai Noel chegou cedo para o presidente Lula, e o presente foi enviado por Trump por meio desse ataque desajeitado à soberania do Brasil, a fim de proteger um aspirante a ditador e um claro perdedor", diz um alto diplomata brasileiro citado anonimamente na coluna.
O jornalista também chama atenção para a resiliência brasileira diante da investida norte-americana. De acordo com ele, ao contrário de outros países da América Latina, o Brasil tem uma economia "mais diversificada" e não se curvou diante da ameaça tarifária.
Moraes "não se intimidou"
Tharoor destaca ainda a postura do ministro Alexandre de Moraes, descrevendo-o como firme frente às pressões. Moraes, que conduz os processos contra Bolsonaro, teve seu visto revogado pelos EUA, e "também parece não ter se intimidado", escreve o colunista.
O artigo também revela o incômodo dentro do próprio governo norte-americano. Diplomatas dos EUA ouvidos sob anonimato demonstraram preocupação com o impacto da decisão de Trump sobre a imagem internacional do país.
"É difícil conceber uma ação que o governo Trump poderia tomar na relação entre EUA e Brasil que fosse mais prejudicial à credibilidade dos Estados Unidos na promoção da democracia do que sancionar um ministro da Suprema Corte de outro país apenas porque não gostamos de suas opiniões jurídicas", afirmou um funcionário do Departamento de Estado à coluna.
Por fim, o colunista se refere ao Brasil como um "gigante latino-americano" e ressalta que os Estados Unidos mantêm superávit comercial com o país, o que torna o Brasil um alvo incomum para o protecionismo de Trump.