
Los Angeles, no Estado da Califórnia, se transformou em um cenário de guerra. Tiros de balas de borracha, gás lacrimogêneo, carros incendiados, pedras e prisões. Há três dias, manifestantes contrários à política de imigração do governo de Donal Trump e policiais protagonizam confrontos.
Trump ordenou o envio de agentes da Guarda Nacional — cerca de 2 mil soldados — para atuar nas ruas da cidade. O governador do Estado, Gavin Newsom, democrata e opositor do presidente, criticou a medida afirmando que só aumentaria a tensão.
O início dos protestos
Os protestos começaram na sexta-feira (6), depois de ofensivas de agentes federais pela cidade em busca de imigrantes ilegais em postos de trabalhos.
Os policiais foram recebidos com gritos, enquanto alguns atiravam objetos contra eles. A polícia utilizou spray de pimenta e munições não letais para dispersar os manifestantes.

Prisões, gás e confronto
No sábado (7), os confrontos ficaram mais violentos. Houve manifestações no centro da cidade quanto no subúrbio de Paramount, de maioria latina. Os policiais realizaram dezenas de prisões e fizeram uso de munições não letais para controlar a multidão, como gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral.
Manifestantes exibiram bandeiras mexicanas e gritaram palavras de ordem contra as autoridades migratórias, enquanto outros queimaram uma bandeira americana, segundo o jornal Los Angeles Times.
De acordo com o jornal The New York Times, os manifestantes atiraram fogos de artifício e pedras em viaturas, incendiando alguns veículos que estavam no local.

Guarda Nacional
No domingo (8), a Casa Branca ordenou o envio de 2 mil soldados das tropas da Guarda Nacional para reprimir os protestos "contra grandes invasões de imigrantes", segundo informou o Comando Norte.
Donald Trump culpou a "esquerda radical" por estar por trás dos protestos e tumultos. "Esses protestos da esquerda radical, por instigadores e, muitas vezes, manifestantes pagos, não serão tolerados. Além disso, a partir de agora, máscaras não serão permitidas nos protestos", disse na Truth Social.
Ainda na publicação, Trump criticou o governador da Califórnia chamando-o de “incompetente”.
Homens encapuzados queimaram carros e foram reprimidos pelas forças de segurança com gás e balas de borracha. Houve ao menos 27 prisões, segundo o jornal Los Angeles Times.

Jim McDonnell, chefe do Departamento de Polícia de Los Angeles, afirmou no domingo (8) que as ações foram "ficando cada vez piores e mais violentas".
De acordo com as autoridades, mais de 150 pessoas foram presas em Los Angeles desde a sexta-feira.
Destruição pelas ruas
Algumas cenas após os tumultos mostraram carros queimados, barricadas quebradas, cones de trânsito espalhados pelas ruas e pichações em prédios governamentais.

O caos na cidade fez com que a polícia recomendasse o fechamento de lojas e que os moradores do centro de Los Angeles denunciassem "qualquer vandalismo, dano ou saque", pouco depois da abertura de investigações sobre roubos em meio aos protestos.
Segundo as autoridades, as pessoas afetadas são imigrantes sem documentos e membros de gangues.
A polícia de Los Angeles estabeleceu um perímetro para proteger edifícios federais e evitar o contato entre manifestantes violentos e unidades da Guarda Nacional.
Trump se manifesta
Em uma rede social, Trump disse que "multidões violentas" estão atacando agentes federais. "A ordem será restaurada e os ilegais serão expulsos", disse o presidente.
As tropas enviadas por Trump foram posicionadas ao redor de prédios do governo federal.
O decreto de Trump afirma que as tropas terão um papel de apoio, protegendo os agentes do ICE (Imigração e Alfândega) durante o cumprimento da lei, e não realizando diretamente atividades de policiamento.

Trump prometeu que as tropas vão garantir "uma legalidade muito severa e ordem". "Você tem pessoas violentas, e não vamos deixar que escapem impunes", afirmou o presidente.
Governador critica medida
O governador Califórnia chegou a dizer que iria processar o governo federal pela ação sem seu consentimento.
"Esta é uma grave violação da soberania estadual (...) Revoguem a ordem. Devolvam o controle à Califórnia", reclamou na rede social X o governador do Estado.
Gavin Newsom chamou a ação de ilegal acrescentou que Trump "criou as condições" em torno dos protestos.
Newsom acusou Trump de tentar fabricar uma crise e violar a soberania do Estado da Califórnia. "Estes são os atos de um ditador, não de um presidente", escreveu ele em um post no X.

Democratas x Republicanos
Congressistas republicanos defenderam a medida de Trump.
"Não me preocupa em absoluto", declarou o presidente republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, no programa "This Week", do canal ABC, ao ser questionado sobre o assunto.
Também apoiou a possibilidade de recorrer aos fuzileiros navais do serviço ativo, além da Guarda Nacional, uma eventualidade mencionada no sábado pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth.

É a primeira vez desde 1965 que um presidente mobiliza essa força sem o pedido de um governador. A decisão foi criticada pela ex-vice-presidente Kamala Harris, que a qualificou como "uma escalada perigosa para provocar o caos".
Os governadores democratas criticaram a mobilização militar. "A ação do presidente Trump (...) é um alarmante abuso de poder", afirmaram em um comunicado conjunto. "É importante que respeitemos a autoridade executiva dos governadores de nosso país para administrar sua Guarda Nacional".

Deportação em massa
Nas últimas semanas, o governo dos EUA efetuou várias alterações no seio do ICE com o objetivo de promover mais detenções. O objetivo de Trump é efetuar, pelo menos 3 mil detenções por dia.
As operações contra migrantes sem documentos são parte das políticas implementadas por Trump desde o início de seu segundo mandato.
O republicano foi eleito em grande parte por sua promessa de reprimir a entrada e permanência de migrantes sem documentos nos Estados Unidos.
Uso das Forças Armadas
Donald Trump determinou na noite de segunda-feira (9) o envio de 700 fuzileiros navais para as ruas de Los Angeles para dar apoio à Guarda Nacional na repressão a manifestantes que protestam pelo quarto dia seguido contra sua política de linha-dura contra a imigração ilegal.
Toque de recolher
A polícia de Los Angeles efetuou as primeiras prisões de pessoas que desafiaram o toque de recolher noturno instaurado na terça-feira (10), após cinco dias de manifestações contra a política migratória do governo de Donald Trump, enquanto o governo do Texas anunciou a mobilização da Guarda Nacional.