
Os Estados Unidos bombardearam, neste domingo (22), três instalações nucleares-chave do Irã, em uma ação que se soma à ofensiva lançada por Israel em 13 de junho.
Poucas horas depois, o Irã respondeu com o lançamento de 40 mísseis contra Israel e ameaçou os Estados Unidos com represálias “das quais vão se lamentar”.
Após dias de incerteza, o presidente Donald Trump confirmou os ataques contra Fordow, Natanz e Isfahan — os principais complexos nucleares iranianos — e descreveu a ofensiva como um “feito militar espetacular”.
Meios de comunicação iranianos confirmaram os bombardeios.
Programa nuclear "devastado"
O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, afirmou que o programa nuclear iraniano foi “devastado”.
Segundo ele, os Estados Unidos utilizaram sete bombardeiros furtivos B-2 nos ataques. Essas aeronaves são as únicas capazes de transportar as potentes bombas antibunker do tipo GBU-57.
As ogivas de 13 toneladas podem penetrar dezenas de metros de profundidade antes de explodir, o que permite atingir alvos subterrâneos, como a instalação de Fordow. Israel não possui esse tipo de armamento.
Nos ataques, os Estados Unidos lançaram 14 bombas GBU-57 — ou Penetrador Maciço de Artilharia —, de 13,6 toneladas, nunca antes utilizadas em combate.
Duas delas foram lançadas contra a usina de enriquecimento de Fordow, ao sul de Teerã.
Os três principais complexos nucleares iranianos sofreram “graves danos”, assinalou o general Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos.

Washington "disposto a negociar"
Após os bombardeios, o governo americano declarou estar “disposto” a negociar com o Irã sobre seu programa nuclear civil.
— É uma decisão muito simples: se o que querem são reatores nucleares para produzir eletricidade, há muitos outros países no mundo que fazem isso sem enriquecer seu próprio urânio. Eles também podem fazer assim — disse o secretário de Estado americano, Marco Rubio, à emissora Fox News.
Entretanto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou: nesta guerra, “já conseguimos muito e, graças ao presidente Trump, nos aproximamos de nossos objetivos”.
— Quando forem alcançados, a operação será encerrada — acrescentou.
Apesar de vários integrantes do governo americano afirmarem que os ataques não tinham como objetivo alterar o regime iraniano, Trump sugeriu, neste domingo:
— Não é politicamente correto usar o termo "mudança de regime", mas, sim, o atual regime iraniano não pode tornar o Irã grande novamente. Por que não haveria uma mudança de regime?
Feridos, mas "nenhum perigo" de contaminação
A porta-voz do governo iraniano afirmou que não há “nenhum perigo” para as pessoas que vivem nas proximidades das instalações nucleares atacadas.
O Ministério da Saúde informou que os bombardeios deixaram feridos, mas nenhum deles apresenta sinais de “contaminação radioativa”.
Reação do Irã
A Guarda Revolucionária, braço ideológico do Exército iraniano, advertiu os Estados Unidos:
“Esperem represálias das quais vão se lamentar. O Irã utilizará opções que estão além da compreensão”, afirmou a corporação.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, condenou a “agressão” dos Estados Unidos e participou de uma manifestação em Teerã contra os bombardeios. Seu chanceler, Abbas Araghchi, denunciou o “comportamento extremamente perigoso, anárquico e criminoso” dos EUA.
— O Irã vai se defender por todos os meios necessários. Não há linha vermelha que já não tenham cruzado. A última, e a mais perigosa, ocorreu ontem à noite — acrescentou.
Ali Akbar Velayati, conselheiro do líder supremo do Irã, declarou em mensagem publicada pela agência estatal Irna que as bases utilizadas pelas forças americanas para os ataques “serão consideradas alvos legítimos”.
Quarenta mísseis contra Israel
Poucas horas após os ataques americanos, a agência Irna noticiou o lançamento de 40 mísseis iranianos contra Israel.
Teerã afirmou que os alvos incluíam o aeroporto internacional Ben Gurion, próximo a Tel Aviv, e um “centro de pesquisa biológica”, entre outros.
Jornalistas da AFP registraram danos significativos em bairros residenciais no norte e no sul de Tel Aviv. Os serviços de emergência israelenses relataram 23 feridos.
As autoridades iranianas também anunciaram a execução de um homem condenado por ser agente do Mossad, o serviço de inteligência israelense.
Israel agradece a Trump e lança novos ataques
— Obrigado, o povo de Israel agradece a vocês. Na ação desta noite contra as instalações nucleares do Irã, os Estados Unidos demonstraram ser verdadeiramente incomparáveis — disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em mensagem de vídeo em inglês dirigida a Trump.
Netanyahu afirmou ainda que, com essa ofensiva, Trump impõe um “ponto de inflexão histórico” que pode ajudar a levar o Oriente Médio rumo a “um futuro de prosperidade e paz”.
O Exército israelense anunciou o lançamento de uma nova onda de ataques contra alvos militares no oeste do Irã, incluindo lançadores de mísseis.
A agência Isna informou a morte de quatro soldados em uma base no norte do país.
"Ameaça existencial"
O porta-voz militar israelense, Effie Defrin, afirmou que a campanha contra o Irã continua e que o objetivo é “eliminar a ameaça existencial ao Estado de Israel, golpear o programa nuclear do Irã e destruir seu sistema de mísseis”.
Meios de comunicação iranianos relataram que “uma forte explosão foi ouvida” na tarde de domingo na província de Bushehr, no sul do Irã, onde fica a única usina nuclear do país.
Reunião de urgência no Conselho de Segurança da ONU
O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu neste domingo sobre o risco de “mais um ciclo de destruição” e represálias após os ataques.
— As pessoas da região não podem suportar mais um ciclo de destruição. E, no entanto, agora corremos o risco de cair em um círculo de represália após represália — declarou Guterres durante reunião de emergência do Conselho de Segurança.
O embaixador do Irã na ONU, por sua vez, denunciou que os Estados Unidos iniciaram uma “guerra” contra seu país “sob pretextos absurdos e inventados”.
Líder supremo do Irã diz que inimigo cometeu erro e será punido
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, afirmou neste domingo (22) que "o inimigo sionista cometeu um grande erro" e "deve ser punido". Esse é o primeiro pronunciamento de Khamenei após o ataque dos Estados Unidos a instalações nucleares iranianas.
"O inimigo sionista cometeu um grande erro, cometeu um grande crime; deve ser punido — e está sendo punido. Está sendo punido neste exato momento", publicou Khamenei em sua conta na rede social X.