
O barco de ajuda humanitária Madleen, que transporta ajuda para Gaza com um grupo de ativistas a bordo, incluindo a sueca Greta Thunberg, foi desviado na madrugada desta segunda-feira (9) pelas autoridades israelenses, que afirmaram que os passageiros deverão "retornar aos seus países".
"O 'iate das selfies' das 'celebridades' está navegando com segurança em direção às costas de Israel. Esperamos que os passageiros retornem aos seus países de origem", afirmou o ministério das relações exteriores de Israel em um comunicado. "A pequena quantidade de ajuda no iate que não foi consumida pelas 'celebridades' será transferida para Gaza pelos canais humanitários reais", acrescentou a nota.
O ministério publicou imagens que mostram a distribuição de comida e água aos passageiros da embarcação, que usavam coletes salva-vidas. O veleiro da Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês), um movimento internacional não violento de solidariedade com os palestinos, partiu da Itália em 1º de junho com o objetivo de entregar ajuda a Gaza.
Doze ativistas de vários países (França, Alemanha, Brasil, Turquia, Suécia, Espanha e Países Baixos) viajam no Madleen, com o objetivo de "romper o bloqueio israelense" em Gaza, que enfrenta uma situação humanitária catastrófica após mais de um ano e meio de guerra.
Após uma escala no Egito, a embarcação se aproximou da costa de Gaza, apesar das advertências de Israel, que ordenou ao exército que impedisse a entrada do veleiro no território palestino. A FFC informou durante a noite que o exército havia abordado a embarcação.
— Perdemos a comunicação com o Madleen. O exército israelense abordou o barco — afirmou a ONG no Telegram. — A tripulação foi sequestrada pelas forças israelenses.
— Se você está assistindo a este vídeo, fomos interceptados e sequestrados em águas internacionais — disse Greta Thunberg em um vídeo programado divulgado pela FFC.
A organização também denunciou "uma clara violação do direito internacional" e insistiu que a abordagem ocorreu em águas internacionais.
— Israel não tem autoridade legal para deter os voluntários internacionais a bordo do Madleen — afirmou a diretora da FFC, Huwaida Arraf.
O Irã, inimigo de Israel, condenou a interceptação do navio e chamou a ação de "ato de pirataria".
A abordagem aconteceu às 3h02min (22h02min de domingo em Brasília), segundo a ONG. Os passageiros desembarcarão no porto israelense de Ashdod, segundo o ministério da defesa.
O governo israelense acusou nesta segunda-feira a ativista sueca "Greta Thunberg e outros (de terem) tentado encenar uma provocação midiática com a única intenção de fazer publicidade". O ministro israelense da defesa, Israel Katz, anunciou no domingo a ordem para que o exército impedisse a chegada do Madleen em Gaza.
— O Estado de Israel não permitirá que ninguém rompa o bloqueio marítimo de Gaza, cujo principal objetivo é impedir a transferência de armas ao Hamas, uma organização terrorista assassina que mantém nossos reféns e comete crimes de guerra — afirmou.
Israel enfrenta forte pressão internacional para encerrar a guerra em Gaza, onde a população é bombardeada diariamente e está à beira da fome devido às restrições impostas por Israel, segundo a ONU.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta, em comunicado publicado no sábado (7), sobre o "colapso do sistema de saúde na Faixa de Gaza" e afirmou que não existem mais "hospitais em funcionamento no norte" do território.
A guerra em Gaza entre Israel e o Hamas começou após o ataque sem precedentes do movimento islamista palestino executado em território israelense em 7 de outubro de 2023. O atentado provocou a morte de 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais.
Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 55 continuam em cativeiro em Gaza e pelo menos 31 morreram, segundo as autoridades israelenses.
Até o momento, mais de 54.770 palestinos, a maioria civis, morreram na operação militar israelense, segundo dados do ministério da saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.
Em 2010, uma flotilha internacional de oito navios de carga com quase 700 passageiros, que partiu da Turquia em uma tentativa de romper o bloqueio da Faixa de Gaza, foi interceptada por uma operação militar israelense que terminou com 10 ativistas mortos.
Itamaraty se manifesta
O ativista brasileiro Thiago Ávila está entre os tripulantes do Madleen. Em nota, o governo brasileiro afirmou que está acompanhando com atenção a situação e pediu para que Israel liberte os tripulantes detidos.
"O governo brasileiro acompanha com atenção a interceptação, pela marinha israelense, da embarcação Madleen, que se dirigia à costa palestina para levar itens básicos de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e cuja tripulação, composta por 12 ativistas, inclui o cidadão brasileiro Thiago Ávila.
Ao recordar o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais, o Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos.
Sublinha, ademais, a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante.
As Embaixadas na região estão sob alerta para, caso necessário, prestar a assistência consular cabível, em consonância com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares."