
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite de sábado (21) que o país entrou em guerra contra o Irã, após confirmar o ataque a três instalações nucleares no país persa.
Inicialmente, Trump publicou em suas redes sociais que uma "carga completa de bombas" fora lançada nas instalações de Fordow, Natanz e Esfahan.
"Todos os aviões estão fora do espaço aéreo iraniano. Todos os aviões estão em segurança a caminho de casa. Parabéns aos nossos grandes guerreiros americanos. Não há outro exército no mundo que pudesse ter feito isso. AGORA É A HORA DA PAZ! Agradecemos a sua atenção a este assunto", afirmou.
Em seguida, Trump fez um pronunciamento a respeito do ataque dos EUA contra as instalações nucleares do Irã. Ele justificou o ato como necessário para a paz mundial, "para que o país deixe de ser uma ameaça nuclear e de terror".
— Ou haverá paz, ou haverá tragédia para o Irã. Que cessem os ataques que observamos nos últimos oito dias. Hoje foi o dia mais difícil de todos e talvez o mais letal. Mas se a paz não vier rápido, nós continuaremos atacando — discursou o presidente estadunidense.
Irã confirma ataque "por inimigos do país"
Após os ataques norte-americanos, a Organização Iraniana de Energia Atômica, agência que coordena o programa nuclear do país, afirmou que os avanços para desenvolver instalações nucleares não serão interrompidos.
A nota oficial da organização confirmou que as instalações nucleares de Fordow, Natanz e Esfahan foram atacadas "por inimigos do país". "É um ato bárbaro que viola o direito internacional, especialmente o Tratado de Não Proliferação Nuclear", disse a agência estatal.
A nota também afirma que os ataques norte-americanos ocorrem "em meio à indiferença e até mesmo à cumplicidade" da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"A Organização de Energia Atômica do Irã assegura à grande nação iraniana que, apesar das conspirações malignas de seus inimigos, com os esforços de milhares de seus cientistas e especialistas revolucionários e motivados, não permitirá que o caminho do desenvolvimento desta indústria nacional – que é o resultado do sangue de mártires nucleares – seja interrompido", finaliza a nota.
Após o bombardeio ordenado por Donald Trump contra instalações nucleares no Irã, o Parlamento do Irã aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz, segundo a mídia local.
A medida ainda precisa passar pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional e pelo aiatolá Khamenei para entrar em vigor.
Chanceler diz que EUA "cruzaram a linha vermelha"
Em coletiva de imprensa em Istambul, na Turquia, neste domingo (22), o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que os EUA "cruzaram uma linha vermelha muito grande ao atacar instalações nucleares".
— Não há linha vermelha que eles não tenham cruzado. E a última, a mais perigosa, aconteceu ontem à noite — declarou Araghchi, o principal diplomata iraniano.
TV do Irã afirma que americanos se tornam alvo legítimo
As autoridades do Irã afirmaram, neste domingo (22), que os ataques dos EUA contra instalações nucleares iranianas deram início a uma "guerra perigosa". Por meio de uma nota, o Ministério das Relações Exteriores relatou:
"O ministério considera o governo belicista e ilegal dos EUA totalmente responsável pelas consequências extremamente perigosas deste crime grave", diz o comunicado da agência de notícias semioficial iraniana Tasnim, divulgado pela CNN. "O mundo não deve esquecer que foram os EUA, em meio aos esforços diplomáticos em andamento, que traíram a diplomacia."
Depois do ataque dos Estados Unidos, uma emissora de TV estatal do Irã avisou que, a partir deste momento, qualquer estadunidense na região poderá ser atacado.
“Cinquenta mil tropas dos EUA na região estão ao alcance do Irã, e o Líder Supremo prometeu que venceremos esta guerra”, disse um apresentador da TV estatal iraniana.
Cerca de 40 mil soldados e civis americanos trabalham para o Pentágono no Oriente Médio e podem estar na linha de fogo direta do Irã se o país persa cumprir as ameaças de retaliação.
Conforme o jornal The New York Times, há bases dos EUA ou locais com presença recente de tropas americanas em diversos países próximos ao Irã, como Iraque, Bahrein e Kuwait, que podem ser os primeiros alvos de ataques iranianos, conforme especialistas. Pessoal americano não-essencial e parentes já foram retirados das embaixadas dos três países.
Novo bombardeio em Israel

Três áreas de Israel, incluindo Tel Aviv, foram atacadas na manhã deste domingo (22) por mísseis do Irã, deixando pelo menos 23 pessoas feridas, segundo serviços de resgate e a polícia. Não foram reportados mortos. É o primeiro ataque do Irã após a entrada dos EUA no conflito.
O Irã disparou duas rodadas de mísseis contra Israel, onde alarmes soaram no norte e centro do país por volta das 7h30min, horário local.
Assim que o alerta foi desativado, moradores de Ramat Aviv correram para fora. Um homem e uma mulher choram, abraçados, em meio a uma paisagem desolada coberta de escombros.
Netanyahu agradece a Trump
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, agradeceu ao presidente norte-americano, Donald Trump, pelo ataque dos Estados Unidos ao Irã.
— A história registrará que o Presidente Trump agiu para negar ao regime mais perigoso do mundo as armas mais perigosas do mundo — afirmou Netanyahu.
Após a ação dos EUA, o governo de Israel proibiu atividades não essenciais, como aulas em escolas e trabalho presencial em escritórios. A medida foi anunciada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), as Forças Armadas do país, com aprovação do ministro da Defesa, Israel Katz.
Além de atividades educacionais, também estão proibidas reuniões e a abertura de locais de trabalho para setores não essenciais. A população do país é obrigada a seguir essas instruções.
Entre críticas e elogios
O ataque dos Estados Unidos a três instalações nucleares do Irã gerou forte repercussão internacional. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, classificou o ataque como “uma escalada perigosa” e afirmou que a medida representa uma ameaça à paz e à segurança internacionais.
"Há um risco crescente de que esse conflito possa rapidamente sair do controle, com consequências catastróficas para civis, para a região e para o mundo", afirmou Guterres por meio de um comunicado.
Na América Latina, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também criticou a ação dos Estados Unidos. Durante um evento público em Medellín, disse que o bombardeio coloca em risco a estabilidade global.
“Este ato incendeia o Oriente Médio (...) e não afeta apenas o Oriente Médio, mas todos nós aqui na Colômbia. Também temos que pedir e exigir como seres humanos, cara a cara e sem abaixar a cabeça, exigimos a paz mundial”, afirmou o líder colombiano.
Nos Estados Unidos, o ataque ao Irã dividiu opiniões entre republicanos e democratas.
O congressista republicano Thomas Massie afirmou que a ação "não é constitucional", em crítica à decisão do presidente Donald Trump de ordenar os ataques sem aprovação prévia do Congresso. No entanto, outros republicanos elogiaram a decisão de Trump.
"Muito bem, presidente Trump", postou o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul. O senador do Texas, John Cornyn, chamou de uma "decisão corajosa e correta". Já a senadora do Alabama, Katie Britt, disse que os bombardeios foram "fortes e cirúrgicos".
Já as reações de políticos do partido Democrata, que faz oposição ao presidente Donald Trump, também foram divididas. A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, pediu um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump por atacar o Irã sem a "autorização" do Congresso dos Estados Unidos.
A opinião também foi endossada por Rashida Tlaib, de origem palestina, que chamou o premiê israelense Benjamin Netanyahu de "criminoso de guerra" e comparou a ação aos ataques ao Iraque em 2003.
O movimento difere do senador democrata John Fetterman, da Pensilvânia, um defensor declarado de Israel, que também se juntou aos republicanos congressistas e elogiou os ataques ao Irã. "O Irã é o maior patrocinador mundial do terrorismo e não pode ter capacidades nucleares", postou.
Repercussão internacional
O Brasil condenou os ataques militares dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã no sábado (21). Conforme nota emitida pelo Ministério das Relações Exteriores neste domingo (22), o governo também demonstra preocupação com a possível escalada do conflito no Oriente Médio.
A nota ainda afirma que "qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e de normas da Agência Internacional de Energia Atômica", e também declara que a ação "representa uma grave ameaça à vida e à saúde de populações civis".
A Rússia condenou "veementemente" os ataques dos Estados Unidos a três instalações nucleares do Irã. Em comunicado divulgado neste domingo (22), a diplomacia russa chamou os bombardeios de "decisão irresponsável" e alegou uma violação flagrante ao direito internacional.
No mesmo sentido, um informe divulgado na mídia estatal da China afirmou que os Estados Unidos estariam "repetindo o erro cometido no Iraque", referindo-se à invasão americana no país em 2003.
"A história tem demonstrado repetidamente que intervenções militares no Oriente Médio frequentemente produzem consequências não intencionais, incluindo conflitos prolongados e desestabilização regional", afirmou a mídia chinesa.
Também no X, a representante da União Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que "a mesa de negociações é o único lugar para pôr fim a esta crise".
O ministro de Relações Exteriores da França, Jean Noel-Barrot, afirmou:
— Uma resolução duradoura para esta questão exige uma solução negociada no âmbito do Tratado de Não Proliferação Nuclear.
O premiê britânico, Keir Starmer, disse que programa nuclear do Irã representa uma grave ameaça à segurança internacional.
Guerra no Oriente Médio
A possibilidade de o Irã contar com uma bomba atômica foi o motivo apontado por Israel para promover o ataque que ocorreu em 12 de junho. Os iranianos responderam com lançamentos de mísseis e drones.
Desde então, os dois países trocaram agressões mútuas, com bombardeios a Teerã e arredores, no Irã, e em cidades como Tel Aviv, Jerusalém e Haifa, em Israel.