
O barco de ajuda humanitária Madleen, com um grupo de 12 ativistas a bordo chegou ao porto de Ashdod, em Israel, após ser interceptado por autoridades israelenses. A embarcação, escoltada por dois navios da marinha, entrou no porto ao anoitecer, por volta das 20h45min no horário local (14h45min no Brasil), segundo um fotógrafo da AFP.
O veleiro, pertencente à Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês), partiu da Itália em 1º de junho com o objetivo de entregar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A bordo estavam 12 ativistas, entre eles a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila, além de pessoas de outros paises como França, Alemanha, Turquia, Espanha e Países Baixos.
O objetivo do grupo era “romper o bloqueio israelense” ao território palestino.
Os 12 tripulantes "estão sendo processados e transferidos para a custódia das autoridades israelenses", diz publicação da FFC. "A expectativa é de que sejam levados para a unidade de detenção de Ramleh, a menos que concordem em sair imediatamente — nesse caso, podem ter permissão para embarcar em um voo saindo de Tel Aviv ainda esta noite", segue o texto.
A publicação encerra afirmando: "Continuamos exigindo a libertação imediata de todos os voluntários e a devolução da ajuda humanitária roubada. A detenção é ilegal e uma violação do direito internacional."
A interceptação
O exército israelense afirmou que o barco foi “abordado” durante a noite, sem especificar a localização exata.
— Se você está vendo este vídeo, é porque fomos interceptados e sequestrados em águas internacionais — declarou a ativista sueca Greta Thunberg em um vídeo previamente gravado e divulgado pela FFC.
Imagens divulgadas pelo movimento mostram ativistas a bordo com coletes salva-vidas laranjas e as mãos para o alto durante a intercepção. Alguns entregaram seus celulares, conforme instruções recebidas; outros teriam jogado seus celulares ou tablets ao mar.
Itamaraty pede libertação dos ativistas
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota no inicio da manhã desta segunda-feira em que afirma que acompanhava a interceptação e pedia a libertação dos ativistas.
"Ao recordar o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais, o Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos. Sublinha, ademais, a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante."
"Violação de direitos internacionais"
A FFC, criada em 2010, é um movimento internacional não violento de solidariedade com os palestinos, que combina ajuda humanitária com protesto político contra o bloqueio à Faixa de Gaza. O Ministério das Relações Exteriores de Israel informou que, após a chegada do veleiro a Ashdod, os passageiros seriam desembarcados e enviados de volta aos seus países de origem.
A emissora Al Jazeera condenou o “ataque israelense ao barco” e exigiu a libertação de seu repórter Omar Faiad. A ONG israelense Adalah, defensora dos direitos da minoria árabe, afirma ter sido designada para defender os 12 passageiros do barco. A organização declarou que todos seriam transferidos para um centro de detenção antes de serem deportados de Israel.

Entre os passageiros, há seis cidadãos franceses, incluindo a eurodeputada franco-palestina de esquerda Rima Hassan. A França “transmitiu todas as mensagens” a Israel para que a “proteção” de seus seis cidadãos “esteja garantida” e que eles possam “retornar ao solo francês”, afirmou nesta segunda-feira o presidente Emmanuel Macron, que classificou o bloqueio humanitário em Gaza como um “escândalo”.
O Irã, inimigo declarado de Israel, condenou a interceptação do barco, chamando-a de “ato de pirataria”.
A Turquia qualificou a operação como um “ataque odioso” e uma “violação flagrante do direito internacional”. A ONG Anistia Internacional, por sua vez, afirmou que “a interceptação do ‘Madleen’ por Israel e a detenção da tripulação violam o direito internacional”.
Após alcançar a costa egípcia, o veleiro se aproximou de Gaza, apesar dos alertas israelenses contra qualquer tentativa de “romper o bloqueio marítimo” do território, cujo “objetivo principal é impedir a transferência de armas para o Hamas”.
“Provocação midiática”
O governo israelense acusou “Greta Thunberg e os demais (ativistas) de tentarem encenar uma provocação midiática com o único intuito de autopromoção”.
Israel enfrenta forte pressão internacional para pôr fim à guerra em Gaza, onde a população é bombardeada diariamente e está à beira da fome devido às restrições impostas por Israel, segundo a ONU.
A guerra entre Israel e o Hamas em Gaza começou após ataque palestino em território israelense, em 7 de outubro de 2023, que causou a morte de 1.219 pessoas do lado israelense, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais. Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 54 continuam em cativeiro em Gaza e ao menos 32 morreram, segundo autoridades israelenses.
Até o momento, mais de 54.880 palestinos, em sua maioria civis, morreram na operação militar israelense, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.