Após ser deportado por Israel, o ativista Thiago Ávila chegou ao Brasil na manhã desta sexta-feira (13). Ele era um dos tripulantes do veleiro Madleen, interceptado por forças israelenses no Mar Mediterrâneo na madrugada de segunda-feira (9).
De acordo com o jornal O Globo, o brasileiro desembarcou no país por volta das 5h40min, no Aeroporto Internacional de Guarulhos. No local, ele foi recebido pela esposa, Lara Souza, e pela filha Tereza, de sete meses.
Em entrevista a jornalistas, o ativista explicou que vestia ainda o uniforme que lhe deram ao ser encaminhado a uma cela solitária, onde ficou por dois dias. Aos jornalistas, ressaltou que sua cela ficava em uma masmorra que aparentava ser muito antiga.
O ativista cobrou que o Brasil rompa relações com Israel. Ele afirmou ainda que já existem planos de novas missões na região de Gaza.
— Tudo que eles têm são suas armas, seu ódio, seu exército — declarou.
Com um ar de tranquilidade, respondeu que as violações de direito que sofreu, sobretudo, por ter projeção, são "uma fração" muito pequena se comparadas às violências a que os palestinos são submetidos.
Ávila argumentou que é preciso separar antissemitismo de antissionismo e lembrar que há judeus em todo o mundo apoiando os palestinos e se opondo ao massacre promovido por Israel. Os povos já conviveram em harmonia, observou.
— O imperialismo britânico e o sionismo destruíram esse sonho de viver em paz — observou.
Os advogados que fazem a defesa de Thiago Ávila, em Israel, informaram que ele foi colocado em confinamento solitário. A organização de direitos humanos Adalah, que faz a defesa dos detidos, informou que a transferência do brasileiro foi uma punição por ele ter iniciado uma greve de fome pela sua libertação.
“(A defesa) informa que Israel ameaçou deixá-lo na solitária por sete dias em uma cela escura, pequena, sem ar e sem acesso a ninguém”, diz comunicado da Flotilha da Liberdade Brasil, entidade que organizou a missão para a Faixa de Gaza.
A Embaixada de Israel no Brasil foi contatada sobre a transferência do brasileiro para uma solitária, mas a assessoria informou que não comentaria o assunto.
Deportação
Na quinta-feira (12), o ativista brasileiro e outras cinco pessoas foram deportadas. A informação foi divulgada pelo governo israelense.
O grupo incluía a eurodeputada francesa Rima Hassan, que Israel havia anteriormente proibido de entrar no país e nos territórios palestinos, citando o seu apoio a boicotes ao país. Dois ativistas franceses permanecem detidos pelo governo israelense.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel, que chamou o barco de "manobra publicitária", postou uma foto de Hassan no que parecia ser um avião.
Segundo o Adalah, grupo local de direitos humanos que representa os ativistas, eles foram submetidos a "maus-tratos, medidas punitivas e tratamento agressivo, e dois voluntários foram mantidos por algum tempo em confinamento solitário."
Entenda
O barco de ajuda humanitária Madleen transportava ajuda para Gaza com um grupo de ativistas a bordo, pertencente à coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês). Israel apreendeu a embarcação na segunda-feira, em águas internacionais. Greta Thunberg e outros três ativistas foram deportados no dia seguinte.
A Flotilha da Liberdade, que organizou a jornada, disse que tinha como objetivo protestar contra o bloqueio de Israel a Gaza e a campanha militar em andamento lá, que críticos dizem ter empurrado o território à beira da fome mais de 20 meses após o início da guerra Israel-Hamas.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil definiu o caso como "flagrante transgressão ao direito internacional".