
O terceiro dia do conflito entre Israel e Irã começou com novos bombardeios contra Teerã. As forças de defesa israelenses realizaram ataques nas primeiras horas do domingo (15) no fuso local, ainda noite de sábado (14) no horário de Brasília. Segundo Tel Aviv, são 40 horas seguidas de ofensiva. O governo iraniano confirmou que a sede do Ministério da Defesa, em Teerã, e depósitos de petróleo foram atingidos.
No sábado, Israel e Irã mantiveram ataques mútuos. No final da noite, as forças iranianas bombardearam as cidades de Jerusalém e Haifa. As autoridades iranianas dizem que miraram alvos militares. Segundo o governo israelense, os mísseis provocaram a morte de sete pessoas durante o dia. A mídia local noticiou o desaparecimento de 35 pessoas após um bombardeio ao sul de Tel Aviv. As sirenes de alerta foram acionadas diversas vezes, fazendo com que a população israelense buscasse abrigo em áreas seguras.
No Irã, a ação israelense atingiu defesas aéreas e lançadores de mísseis, com intuito de reduzir a capacidade operacional de Teerã. O país confirmou a morte de dois oficiais militares no ataque.
A escalada do conflito é resultado de um ataque israelense contra o território iraniano na madrugada de sexta, o que elevou as tensões no Oriente Médio. O bombardeio israelense, que mirou instalações militares e nucleares iranianas, matou 78 pessoas e deixou mais de 300 feridas, conforme atualização mais recente da mídia local. Entre os mortos, estão o chefe da Guarda Revolucionária do Irã, Hossein Salami, e o chefe das Forças Armadas do país, Mohammad Bagheri, além de cientistas nucleares.
Em reação, ainda na sexta, o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv, atingindo uma área residencial e central, com um saldo de três mortes.
Ataques entre Israel e Irã
Ameaças de ambos os lados
O ministro da Defesa de Israel disse que Teerã "vai queimar" se o Irã prosseguir com os ataques. A declaração de Israel Katz ocorreu após uma reunião com líderes militares israelense neste sábado.
— O ditador iraniano está transformando os cidadãos iranianos em reféns e criando uma realidade na qual eles, especialmente os moradores de Teerã, pagarão um alto preço pelos ataques criminosos contra civis israelenses. Se Khamenei continuar disparando mísseis contra a retaguarda israelense, Teerã irá queimar — disse Katz.

O Irã, por sua vez, direcionou suas ameaças a potências ocidentais. O governo do país fez um alerta a Estados Unidos, Reino Unido e França para que não impeçam ataques contra Israel. Caso esses países tomem ações em prol dos israelenses, suas bases e seus navios também se tornarão alvo, segundo Teerã.
Parlamentares iranianos também ameaçaram impedir novas inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), vinculada à ONU, às instalações nucleares do país. Relatórios do órgão indicam que o Irã enriqueceu urânio além dos limites necessários para pesquisas ou produção de energia elétrica.
"Momento decisivo" e promessa de "vingança"
Israel justificou a ação, alegando que o Irã está muito perto de ter uma arma nuclear, o que seria uma ameaça para Tel Aviv.
— Estamos em um momento decisivo na história de Israel — afirmou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo iraniano, respondeu dizendo que Israel receberá um "destino amargo" após o ataque e que "não permitirá que o sangue de seus valiosos mártires fique sem vingança".
Entenda, nesta reportagem, o que se sabe até agora sobre o conflito e como o mundo reagiu à escalada na região.

O que aconteceu
O ataque
Israel lançou a Operação Leão em Ascensão para, nas palavras de Netanyahu, "conter a ameaça iraniana à sobrevivência de Israel". A iniciativa da força aérea do país mirou instalações nucleares nos arredores de Teerã, a capital do Irã.
O bombardeio começou na madrugada de sexta, no horário local. O principal alvo foi a usina de Natanz, considerada "o coração" do programa de enriquecimento de urânio do Irã. O Ministério da Defesa israelense chamou a ação de "ataque preventivo".
O porta-voz da organização iraniana de energia atômica minimizou o impacto sobre as usinas, dizendo que "os danos não são importantes". Além disso, o bombardeio atingiu áreas urbanas e residenciais da capital iraniana.
Horas antes, o Irã havia afirmado que construiu e iria ativar uma terceira instalação de enriquecimento de material nuclear. Um oficial israelense afirmou que os iranianos tinham material suficiente para fabricar 15 bombas nucleares em poucos dias.
A ação israelense deve continuar, sem prazo para encerrar a ofensiva, segundo Netanyahu.

Lideranças mortas
O Irã confirmou que o ataque matou duas de suas principais lideranças militares:
- Hossein Salami, chefe da Guarda Revolucionária do Irã, braço mais poderoso do exército do país e considerado grupo terrorista por nações ocidentais
- Mohammad Bagheri, chefe das Forças Armadas
Além disso, ao menos seis cientistas nucleares morreram nos ataques.

Resposta iraniana
Segundo o exército de Israel, o Irã lançou mais de 100 drones sobre o território israelense, em retaliação ao ataque. Mais tarde, ainda na sexta, houve o relato de explosões em Tel Aviv.
— Nós esperamos ser expostos a várias ondas de ataques iranianos — antecipou Netanyahu.
Teerã classificou o ataque de Israel como uma "declaração de guerra". O Ministério das Relações Exteriores afirmou que "a resposta do Irã à agressão do regime israelense será sem dúvida contundente".
O aiatolá Ali Khamenei afirmou que os dois países terão um "destino amargo e doloroso" pelos bombardeios.
— Pela graça de Deus, as consequências disso levarão esse regime à ruína — disse o aiatolá.

Arsenais em ação
O Irã possui o maior e mais diverso arsenal de mísseis do Oriente Médio, com milhares de mísseis balísticos e de cruzeiro, alguns capazes de atingir Israel e o sudeste da Europa. O país ainda tem foguetes e drones à disposição. As forças armadas iranianas contam com 580 mil militares na ativa e 200 mil na reserva.
Já Israel conta com mísseis, sistemas de defesa aérea, drones e, de acordo com fontes americanas, um arsenal nuclear significativo. O país ainda tem um sistema de defesa aérea, o Domo de Ferro, projetado para interceptar e destruir mísseis e foguetes de curto alcance.

Repercussão no mundo
EUA dizem não estar envolvidos
Israel anunciou os ataques horas depois de o presidente americano, Donald Trump, ter defendido publicamente que isso não deveria acontecer. Trump considerou que uma ofensiva poderia arruinar as chances de uma solução negociada sobre o programa nuclear iraniano.
— Tentei poupar o Irã da humilhação e da morte — disse Trump.
Já após as explosões em Teerã, o governo dos Estados Unidos afirmou que o ataque aconteceu de modo unilateral, ou seja, sem envolvimento de Washington. Ainda assim, Trump disse à emissora Fox News que estava a par da decisão israelense.
O presidente americano ressaltou que o Irã "não pode ter uma bomba nuclear". Nesta sexta, Trump pressionou os iranianos a alcançarem um acordo nuclear ou se expor a ataques "ainda mais brutais".
Antes da ação israelense, os Estados Unidos haviam esvaziado embaixadas no Oriente Médio, diante do risco de ataques na região. Depois, o Pentágono passou a reposicionar navios de guerra e outros ativos militares no Oriente Médio diante da possibilidade de retaliação do Irã. O secretário de Estado, Marco Rubio, disse que a prioridade americana, no momento, é proteger as forças do país na região.

Impactos globais
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, cobrou que Israel e Irã tenham "moderação máxima" neste momento. Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou a situação com "profundamente alarmante".
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que "a escalada não beneficia ninguém na região". Na Alemanha, o chanceler Friederich Merz cobrou que "ambos os lados se abstenham de medidas que possam levar a uma nova escalada e desestabilizar toda a região".
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que a Europa tem um peso geopolítico reduzido por falta de capacidade militar, e lamentou que os líderes europeus não tenham sido informados previamente da ofensiva israelita.
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o país "condenou repetidamente o programa nuclear iraniano em andamento" e que "reafirma o direito de Israel de se defender e garantir sua segurança".
Países como a China, que mantém uma parceria moderada com o Irã, e a Rússia, mais próxima de Teerã, também se manifestaram. Pequim destacou a violação da soberania, da segurança e da integridade iranianas e se colocou à disposição para auxiliar nos diálogos.
Moscou, por sua vez, condenou Israel, dizendo que os ataques foram "inaceitáveis". Ainda assim, em comunicado, o Kremlin informou que o presidente Vladimir Putin expressou a Netanyahu "sua disposição para mediar" o conflito.
O Japão, por sua vez, condenou "veementemente" os ataques aéreos de Israel contra o Irã.
— A paz e a estabilidade na região do Oriente Médio são extremamente importantes para o Japão, e pedimos a todas as partes envolvidas que acalmem a situação — disse o ministro das Relações Exteriores, Takeshi Iwaya, a repórteres em Tóquio.
Na economia, há o temor de que o ataque de Israel ao Irã represente nova ameaça de expansão do conflito, agora inclusive para além do Oriente Médio, provocou a disparada do preço do petróleo, destacou a colunista de Zero Hora Marta Sfredo.

Brasil condena ataques
O Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota para se pronunciar sobre o conflito. No documento do Itamaraty, o Brasil expressa "firme condenação" à ofensiva e alerta que os fatos podem "mergulhar toda a região em um conflito de grandes proporções".
O pronunciamento também ressalta que o embate representa um elevado risco para a paz, a segurança e a economia mundial. Além disso, o governo brasileiro insta os países envolvidos a buscar o fim imediato das hostilidades.
O Itamaraty divulgou nota, no sábado, em que diz acompanhar a situação de duas comitivas de autoridades estaduais e municipais do Brasil que estão em Israel e que busca garantir a segurança e a repatriação dos grupos. Em uma das comitivas, está o secretário da Segurança de Porto Alegre, Alexandre Aragon.
As delegações brasileiras estão em Israel a convite do governo local. Devido à crise, a operação do aeroporto Internacional de Tel Aviv está temporariamente suspensa.
O Itamaraty recomendou aos brasileiros que não viajem a Israel, Jordânia, Iraque, Irã, Líbano, Palestina e Síria. Aos brasileiros que já se encontram nesses países, o Ministério das Relações Exteriores recomenda precauções, como seguir orientações dos sites e mídias sociais das embaixadas brasileiras na região e cumprir as recomendações de segurança das autoridades locais.