
O conclave, que começou na quarta-feira (7), conta com 133 cardeais votantes. Dentre estes, 20 são apontados como favoritos para ser o novo Papa.
Os nomes foram apontados pelo site College of Cardinals Report, montado por veteranos repórteres setoristas da Igreja Católica.
Uma enquete realizada por GZH apresenta estes nomes. É importante lembrar que os cardeais mencionados estão entre os cotados, mas que não há uma relação entre essa votação e a que é realizada na Capela Sistina.
Enquete GZH
Dê o seu palpite sobre quem deve ser o novo Papa (veja os perfis abaixo).
Quem são os cardeais mais cotados
Anders Arborelius
Sueco, 75 anos. Nascido de uma família luterana, ele se converteu ao catolicismo aos 20 anos. É o primeiro cardeal católico da Suécia e ganha pontos por ser de uma região em que o Vaticano precisa conquistar mais fiéis. Pertencente à ordem religiosa carmelita, ele é favorável a dar maior influência às mulheres dentro da Igreja e expressa apoio aos imigrantes na Europa. Declarou-se contrário, porém, ao casamento de pessoas do mesmo sexo.
Jean-Marc Aveline
Francês, 66 anos, arcebispo de Marselha (França), ele nasceu na Argélia, quando esse país era colônia francesa. É descendente de uma família de colonos brancos, expulsos quando os argelinos conquistaram a independência. Trabalhou como ferroviário até a maioridade, tendo ingressado num seminário católico em 1977.
Aveline fez diversos estudos eclesiásticos e se tornou um intelectual católico, dirigindo um instituto teológico. Depois de ser nomeado cardeal, se tornou presidente da Conferência dos Bispos da França, cargo que ocupa no momento.
É considerado de esquerda, pregando diálogo constante com outras religiões e acolhimento de imigrantes muçulmanos (bastante numerosos em Marselha). Tem pregado também pela descentralização da Igreja Católica, rumo a outros continentes que não o europeu.
Angelo Bagnasco
Italiano, 82 anos, arcebispo emérito de Gênova, onde nasceu durante a Segunda Guerra Mundial. Filho de operários, ordenou-se padre em 1966. Um dos mais antigos entre os cardeais, é considerado também um dos mais cultos e inteligentes. É defensor de ortodoxias católicas, aos moldes de João Paulo II e de Bento XVI. Conservador, se mostra contra o aborto, a união de casais homossexuais e a benção a divorciados.
Fridolin Ambongo Besungu
Congolês, 65 anos, é arcebispo de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. É considerado candidato a papa desde que foi nomeado por Francisco como cardeal, em 2019. Pode se tornar o primeiro papa africano em tempos modernos e o primeiro negro — houve três líderes da Igreja Católica nascidos na África, mas eram brancos e do norte do continente.
Os católicos representam cerca de 18% da população do continente africano e geram mais seminaristas do que qualquer outra parte do mundo. Uma característica dos cardeais africanos é o conservadorismo, e Ambongo é um dos representantes dessa linha. Apesar de conselheiro do papa, ele se opôs com veemência à decisão de Francisco de 2023 de que a Igreja deveria abençoar casais homossexuais.
Stephen Brislin
Sul-africano, 68 anos, é arcebispo de Johanesburgo. Criado numa família de classe média comprometida com causas sociais, estudou psicologia e se ordenou padre em 1983. Foi nomeado arcebispo da Cidade do Cabo em 2009 e logo se tornou presidente da Conferência dos Bispos Sul-Africanos. Virou cardeal em 2023.
Prega constantemente contra a pobreza e corrupção endêmicas na África. Considerado de esquerda, defende maior inclusão LGBT na sociedade (inclusive com possibilidade de que formem famílias), ordenação de mulheres como diáconas e mudanças na rigidez estrutural católica.
Raymond Leo Burke
Norte-americano, 76 anos, é o atual prefeito emérito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica (a Suprema Corte católica) e considerado ultraconservador. É filho de católicos irlandeses radicados nos EUA e perdeu o pai com oito anos de idade. Foi então para internatos católicos e, depois, para um seminário. Estudou Filosofia e foi ordenado padre em 1975.
Serviu aos papas por quatro vezes em Roma, mas sempre retornou aos Estados Unidos. Defende que não seja dada a hóstia a quem defende aborto e saudou a eleição de Donald Trump como presidente por suas firmes convicções antiaborto.
Willem Jacobus Eijk
Holandês, 71 anos, graduado médico em 1978, foi ordenado padre em 1985 e realizou diversos trabalhos sobre ética médica de um ponto de vista católico. É conservador, defensor do celibato para padres e da ordenação de sacerdotes apenas do sexo masculino. Ele se opõe também ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Apesar de pregar acolhimento a imigrantes, acredita que eles devem ser obrigados a colaborar com os países que os recebem.
Péter Erdó
Húngaro, é arcebispo metropolitano em Budapeste e tem 72 anos. Sua família foi perseguida por autoridades comunistas quando ele era criança, e teve de fugir da Hungria. Ele acabou ficando num reformatório para jovens, entrando depois para um seminário. Rapidamente ascendeu na hierarquia católica local, tendo se tornado cardeal aos 50 anos, o mais jovem na história húngara.
Quem o conhece afirma que, fosse tornado papa, levaria o Vaticano a retornar ao conservadorismo dos papas João Paulo II e Bento XVI. Em entrevistas, se manifestou contra permitir que católicos divorciados recebam a comunhão e receoso de acolher migrantes. Tem fama de diplomático e poliglota (fala ou entende inglês, francês, alemão, italiano, russo e espanhol, além de húngaro).
Fernando Filoni
Italiano, 79 anos, é grão-mestre do Sepulcro de Jerusalém e foi núncio apostólico no Iraque durante a guerra civil que teve início em 2003 naquele país. Ordenado padre em 1979, é também filósofo, jurista e jornalista.
Foi professor em colégios de Ensino Médio em Roma e, após conclusão de estudos canônicos, viajou como diplomata do Vaticano por todos os continentes (inclusive esteve em missão no Brasil). Atuou como sacerdote no Irã (durante a guerra desse país com o Iraque), Hong Kong e China. É considerado especialista em assuntos de Extremo Oriente.
É considerado um moderado em pensamento político, mais interessado em questões diplomáticas do que na doutrina católica.
Kurt Koch
Suíço, 75 anos. Nascido numa família de comerciantes de Lucerna (Suíça), desde cedo se mostrou inclinado a seguir o catolicismo. Estudou Teologia na Alemanha e trabalhou em projetos ecumênicos na igreja suíça. Foi ordenado padre só aos 32 anos. É profundo conhecedor de teologia e pregador de tolerância entre as diversas religiões. Na juventude foi favorável à ordenação de mulheres. É defensor do celibato dos sacerdotes.
Charles Maung Bo
Birmanês, 76 anos, é o atual arcebispo de Yangon (Mianmar, antiga Birmânia), um país predominantemente budista. Nascido numa família extremamente pobre, perdeu o pai (um camponês) quando tinha apenas dois anos de idade. Cinco irmãos dele morreram quando ainda era criança.
Aos sete anos foi levado para um internato católico, onde teve noções de filosofia e teologia. Aprendeu italiano e francês com missionários que lecionavam em Mianmar. Poliglota e afável, é profundamente ortodoxo, fiel à tendência de Bento XVI. É contra a ordenação de mulheres como sacerdotes, a favor do celibato e contra a bênção a casais do mesmo sexo.
José Tolentino de Mendonça
Português, 59 anos, é prefeito do Dicastério (departamento) da Cultura e Educação do Vaticano. Nascido na Ilha da Madeira, passou a infância em Angola, onde seu pai atuava como pescador. No início da guerra civil que se seguiu à independência angolana, em 1975, sua família fugiu do país e retornou para a Madeira, onde Tolentino ingressou num seminário.
Após, Tolentino ingressou numa universidade católica em Lisboa, onde se formou em Teologia. Virou padre em 1990 e retornou à Madeira. Foi professor, padre comunitário e reitor de universidade.
É considerado de esquerda, tolerante com a homossexualidade, com o feminismo, com a ordenação de mulheres sacerdotes e casamento entre pessoas do mesmo sexo. É também poeta.
Gerhard Ludwig Müller
Alemão, 77 anos, é o atual prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (sucessora da antiga Inquisição). Filho de um operário da indústria automobilística, foi ordenado padre em 1978, quando já tinha doutorado em estudos teológicos sobre ecumenismo. Foi professor universitário durante vários anos na Alemanha. Virou bispo em 2002 e cardeal em 2014.
Apesar de presidir uma entidade encarregada de zelar pelos sacramentos e dogmas católicos, ele não gosta de ser chamado de conservador. É estudioso da Teologia da Libertação, que prega inconformismo dos pobres com sua miséria. Mas do ponto de vista doutrinário, Müller é contra a ordenação de mulheres como sacerdotes e a favor do celibato para os padres.
Pietro Parolin
Italiano, tem 70 anos e atua como secretário de Estado do Vaticano desde 2013, quando o papa Francisco foi eleito. Nessa função, o cardeal é responsável por supervisionar os assuntos internos da Igreja e orientar a política externa. É considerado o mais entrosado na administração central da Igreja Católica, além de ter servido mais de 20 anos como diplomata no órgão que supervisiona as relações internacionais do Vaticano.
Fluente em inglês, francês, italiano e espanhol, é um especialista na Ásia e ajudou na construção de relações dos católicos com a China e o Vietnã. É o mais cotado caso os cardeais optem pelo retorno de um italiano como guardião do trono de São Pedro. Contra ele pesa suspeita de ter acobertado casos de abusos sexuais dentro da Igreja.
Pierbattista Pizzaballa
Italiano, 60 anos, é a principal autoridade do Vaticano para assuntos do Oriente Médio e também é bastante cotado. Pesa contra ele o fato de ser jovem para os padrões papáveis. Especialistas dizem também que o fato de ter vivido muitos anos no Oriente e afastado da política do Vaticano diminui as chances de Pizzaballa.
Foi arcebispo em Jerusalém e sua experiência em uma das zonas de conflito mais acirradas do mundo o ajudou a ganhar destaque. Pesa a favor que muitos cardeais pensem no retorno de um italiano à liderança da igreja, o primeiro desde João Paulo I (em 1978). Ele também tem geralmente evitado polêmicas sobre doutrina, o que poderia ajudá-lo a garantir a necessária maioria de dois terços no Colégio dos Cardeais, embora alguns pensem que ele pode ser considerado jovem demais para o cargo.
Malcolm Ranjith
Nascido no Sri Lanka, tem 77 anos e atua como arcebispo em Colombo, capital do seu país natal. Filho de um ferroviário, cresceu numa vila católica e desde jovem foi contra governos socialistas. Foi educado por missionários franceses e ordenado padre em 1975. Estudou depois Teologia em Roma, voltando a seguir, como sacerdote, para o Sri Lanka. Após estudos eclesiásticos, atuou como diplomata do Vaticano em diversas partes da Ásia, como em Timor Leste (ilha cristã encravada no arquipélago muçulmano da Indonésia).
É fluente em 10 idiomas. Considerado conservador, já defendeu pena de morte para casos especiais, rejeita toda forma de socialismo e acredita em capitalismo ético. É visto como uma espécie de "zebra" entre os papáveis.
Robert Sarah
Nascido na Guiné, 79 anos, é prefeito emérito da Congregação para o Trabalho Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Ele iniciou os estudos quando seu país ainda era colônia francesa. Após a independência, seus pais, animistas, se converteram ao cristianismo. Foi ordenado padre em 1969 e estudou teologia numa universidade em Roma. Serviu como reitor em seminários de diversas cidades africanas.
Conservador, é contra a ideologia de gênero ("ela é uma mentira, um homem jamais vai se tornar mulher", escreveu) e defende o celibato para sacerdotes por considerar que eles devem ser "puros e castos".
Daniel Fernando Sturla
Uruguaio, 65 anos, é o arcebispo de Montevidéu. Perdeu o pai aos 13 anos de idade e a mãe, três anos depois. Foi interno num colégio salesiano e, posteriormente, formou-se em direito e teologia numa universidade católica. Foi ordenado padre em 1987 e tornou-se professor em diversos estabelecimentos católicos de ensino.
É um crítico do secularismo e laicismo uruguaios e diz que a igreja uruguaia tem de ser mais persuasiva. É conservador em costumes e seguidor do ex-papa Bento XVI, defensor do tradicionalismo na Igreja Católica.
Luís Antonio Tagle
Filipino, 67 anos, é um cardeal de tendência liberal, ao ponto de ter sido apelidado de "Francisco Asiático". Foi considerado durante anos um dos favoritos para ser papa. Caso isso aconteça, será o primeiro do sudeste asiático e um dos raros da Ásia a ocupar a cadeira de São Pedro.
Sua abordagem está em linha com a atenção de Francisco aos pobres e necessitados nos países em desenvolvimento, onde viveu e trabalhou. Ajudou a preparar as viagens do último papa ao continente asiático.
Ele prega um mundo menos eurocêntrico, se mostra favorável ao acolhimento de gays pela Igreja Católica e à comunhão para casais divorciados. É, porém, outro cardeal suspeito de acobertar casos de abusos sexuais dentro da Igreja.
Matteo Maria Zuppi
Italiano, 69 anos, foi arcebispo de Bolonha e se destaca entre os candidatos que refletem a visão de Francisco de que a Igreja deve representar e apoiar os pobres. É considerado progressista e virou cardeal em 2019. Teve relação estreita com o último papa, que lhe atribuiu diversas missões importantes, como tentativa de intermediar a paz entre Rússia e Ucrânia.
Há quem diga que Zuppi era o favorito de Francisco para a sucessão. Falam também que tem laços estreitos com Sant'Egidio, uma comunidade católica conhecida por seu serviço aos pobres e pela resolução de conflitos. Ele também tem recepcionado católicos LGBT, escrevendo o prefácio para a edição italiana do livro de 2017 do Reverendo James Martin, Building a Bridge, que pedia que a igreja encontrasse novas formas pastorais de incluir as pessoas gays.