
Após cinco dias de suspense, Vladimir Putin rejeitou a proposta do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, de um encontro presencial entre eles para negociações de paz com a Ucrânia em Istambul, na Turquia, nesta quinta-feira (15).
Em razão disso, o presidente ucraniano também cancelou sua participação no encontro para acordo de paz. O líder ucraniano enviará uma delegação a Istambul, chefiada pelo ministro da Defesa, Rustem Umierov, para as negociações.
— Sentimos o desrespeito russo. O nível de comunicação e da delegação enviada, isso é um desrespeito pessoal. Um desrespeito a mim, ao presidente Trump, ao secretário (de Estado dos EUA) Marco Rubio e aos ministros turcos e ucranianos, que estão todos aqui. Cadê os ministros russos? — disse o presidente ucraniano em coletiva de imprensa na Turquia.
Além do presidente russo, o chanceler Serguei Lavrov e o assessor de política externa Yuri Ushakov não estarão presentes, apesar de terem liderado rodadas anteriores de negociações com os Estados Unidos. A delegação russa será comandada por Vladimir Medinski, um assessor linha-dura de Putin que liderou a única rodada anterior de negociações diretas entre Rússia e Ucrânia, em 2022.
No sábado (10), Putin sugeriu a reunião como uma contraproposta ao cessar-fogo de 30 dias ofertado por Kiev e seus aliados. Zelensky prometeu comparecer pessoalmente e desafiou Putin a aparecer.
Pressão
Nas últimas semanas, a Ucrânia pediu ao Brasil e à China que tentassem convencer a Rússia a aceitar o cessar-fogo de 30 dias, para então dar início às negociações. Em visita a Moscou, no fim de semana, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva pediu que Putin viajasse à Turquia para se encontrar com Zelensky.
Na quarta-feira (14), ao voltar da China e fazer escala em Moscou, Lula telefonou para Putin e reforçou o pedido. Em mensagem divulgada no mesmo dia, Zelensky acusou a Rússia de prolongar a guerra e agradeceu aos países que estão pressionando para que o Kremlin encerre os bombardeios e comece a negociar.
Na terça-feira (13), em declaração conjunta em Pequim, Lula e Xi Jinping expressaram apoio às negociações e defenderam o diálogo como "única forma de pôr fim ao conflito". Brasil e China têm laços estreitos com Moscou. O documento, no entanto, não citou o cessar-fogo ou as garantias de segurança para a Ucrânia.
Putin e Zelensky se encontraram apenas uma vez, em 2019, e Moscou repetidamente retratou o líder ucraniano como ilegítimo. Se aceitasse negociações diretas com o ucraniano, o presidente russo poderia acabar legitimando o seu governo e passar a impressão de ter cedido às exigências de Zelensky.
Impasse
Milhares de pessoas morreram e milhões foram forçadas a fugir de suas casas desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. Atualmente, os militares russos controlam cerca de um quinto do território da ex-república soviética, incluindo a Península da Crimeia, anexada em 2014.
Quando retornou à Casa Branca, em janeiro, Trump prometeu acabar com a guerra na Ucrânia no primeiro dia de mandato. Desde então, ele vem exercendo intensa pressão, mas nos últimos dias, expressou frustração, especialmente depois que a Rússia rejeitou uma proposta de cessar-fogo de 30 dias.
Antes da confirmação de que Putin não participaria do encontro, o presidente americano disse que poderia viajar para a Turquia. Diante da ausência do alto escalão do governo russo, a Casa Branca confirmou na quarta-feira que Trump não irá a Istambul.