
O ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica morreu aos 89 anos, nesta terça-feira (13). Ele foi o líder do Executivo uruguaio de 2010 até 2015. Com estilo de vida simples, que lhe renderam o apelido de presidente "mais pobre" do mundo. Mujica se tornou um emblema da esquerda latino-americana. Ele sempre defendeu o anticonsumismo e conquistou simpatizantes no mundo todo.
— A vida não é só trabalhar. Tem que deixar um tempo para a loucura que cada um tem. Você é livre quando gasta o tempo de sua vida com as coisas que te motivam. Que tu gosta. Para um pode ser jogar bola, para o outro pescar, outro investigar uma molécula, outro a arte. É que... somos diferentes. Mas ter uma causa, ter uma paixão, isso leva tempo. É uma filosofia da vida — disse o político em uma de suas famosas falas que repercute ao longo dos anos.
Durante seu governo, as principais mudanças foram a legalização da maconha e do aborto, além da liberação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Lutar por pátria para todos"
Durante discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013, Mujica criticou o capitalismo, individualismo e a falta de preocupação ambiental:
— Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida. (...) Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Seguem abaixo algumas das frases mais lembradas do ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica:
Ecologia e política
— A grande crise não é ecológica, é política (...) Temos que perceber que a crise hídrica e da agressão ao meio ambiente não é a causa. A causa é o modelo de civilização que construímos. E o que temos que repensar é a nossa forma de viver — disse no dia 20 de junho de 2012, durante discurso na reunião de cúpula Rio+20.
Utopia
— Minha história pessoal: a de um jovem que, assim como outros, quis mudar sua época, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos do meu tempo. Obviamente, os assumo. Mas às vezes eu grito com nostalgia: "Quem me dera ter a força de quando éramos capazes de beber de tanta utopia!" — declarou no dia 24 de setembro de 2013, em discurso na 68ª Assembleia Geral da ONU.
Consumismo
— Arrasamos as selvas verdadeiras e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com andadores; a insônia com comprimidos, a solidão com a eletrônica. Somos felizes longe do eterno humano? Cabe fazer esta pergunta. Aturdidos, fugimos da nossa biologia, que defende a vida pela própria vida como causa superior, e a suplantamos pelo consumismo funcional ao acúmulo — afirmou no discurso de 24 de setembro de 2013 na 68ª Assembleia Geral da ONU.
Milagre da vida
— Pensem que a vida humana é um milagre, que estamos vivos por milagre e que nada vale mais do que a vida — disse em discurso no dia 24 de setembro de 2013 na 68ª Assembleia Geral da ONU.
A velha e o caolho
— Essa velha é pior do que o caolho. Ele era mais político, essa é mais teimosa — comentou no dia 4 de abril de 2013 sobre Cristina Kirchner, então presidente da Argentina, e seu marido, o ex-presidente Nestor Kirchner.
Ele se dirigia ao então prefeito da cidade uruguaia de Florida, Carlos Enciso, durante um evento, mas os microfones estavam abertos e suas palavras foram transmitidas ao vivo pela Presidência.
Maconha
— A maconha é um vício perigoso. Como qualquer vício, não é boa. Não aceito isso de dizer que é melhor do que o cigarro — defendeu no dia 1º de agosto de 2013 na transmissão de rádio "O Presidente Fala".
No dia 25 de setembro do mesmo ano, ele se reuniu com com o empresário americano David Rockefeller, com quem conversou sobre o objetivo da regulamentação da maconha no Uruguai:
— A tese central é tomar o mercado do narcotráfico e tentar identificar um público que consome, e que é clandestino, para não deixá-lo para o narcotráfico. E quando detectarmos que esse grupo está cruzando a linha, podermos atendê-lo como doente.
Aborto e casamento igualitário
— Aplicamos um princípio muito simples: reconhecer os fatos. O aborto é antigo como o mundo. O casamento gay, por favor, é mais antigo do que o mundo — disse ao jornal O Globo em 9 de março de 2024.
Presidente pobre
— Já não sou um presidente pobre. Não vivo na pobreza, vivo com austeridade, com renúncia. Preciso de pouco para viver — ponderou no dia 7 de setembro de 2012, entrevista à AFP.
Durante transmissão para a rádio O Presidente Fala ele completou:
— Deram-nos a fama de presidente pobre. Não somos pobres, somos comedidos. Se tenho muito, tenho que perder muito tempo cuidando dessas coisas. Se tenho o suficiente, vivo leve e me sobra mais tempo.
Felicidade
— Vivi muitos anos sozinho, em um calabouço. Teve noites em que, quando colocavam um colchão, eu ficava feliz. Repensei tudo. Se você não carrega a felicidade dentro de si e não é feliz com pouco, não é feliz com nada — afirmou no dia 28 de outubro de 2014, resposta a jovens durante o programa de TV Uruguai Decide.
Odiar
— Eu tenho minha boa quantidade de defeitos, sou passional, mas no meu jardim faz décadas que não cultivo o ódio, porque aprendi uma dura lição que a vida me impôs: que o ódio acaba nos estupidificando (...) O ódio é cego como o amor, mas o amor é criador e o ódio nos destrói. Uma coisa é a paixão, outra coisa é cultivar o ódio. Já passei por tudo na vida. Ficar seis meses amarrado com arame, com as mãos nas costas. Me sujar todo por não aguentar mais dentro de um caminhão (...) Ficar dois anos sem que me levassem para tomar banho e ter que me lavar com uma caneca de água e um lenço. Já passei por tudo, mas não tenho ódio de ninguém — disse durante discurso ao deixar o Senado no dia 20 de outubro de 2020.
Vencer
— Vencer na vida não é ganhar, é se levantar e recomeçar a cada queda — defendeu também no dia em que deixou o Senado em 2020.
Morte
— Na minha vida, mais de uma vez a morte rondou a minha cama. Desta vez, parece que vem com a foice em punho, vamos ver o que acontece. Enquanto isso, enquanto eu puder, vou seguir militando com meus companheiros, fiel ao meu modo de pensar e entretido com minhas hortaliças, com minhas galinhas, porque não se troca de pangaré no final do rio, sempre fui um torrão com patas e amo a terra. E enquanto o filme durar, eu vou estar por aqui — disse em entrevista coletiva em que anunciou um tumor no esôfago, no dia 29 de abril de 2024.
Grato
— A vida é tão bela que não faz sentido sacrificá-la por motivos estúpidos. No mais, sou grato — afirmou também no dia 29 de abril de 2024, entrevista coletiva em que anunciou um tumor no esôfago.
Fim
— Meu ciclo se encerrou. Sinceramente, estou morrendo. O guerreiro tem direito ao seu descanso — disse no dia 9 de janeiro de 2025, declaração ao semanário Búsqueda ao anunciar uma metástase no fígado e que seu corpo não resistiria a um novo tratamento.