A Autoridade Palestina, que administra parcialmente a Cisjordânia ocupada, acusou o exército israelense, nesta quarta-feira (21), de atirar contra um grupo de diplomatas da China, Japão, México, Espanha e outros países europeus durante uma visita na cidade de Jenin. Nenhum ferido foi reportado.
Os militares israelenses reconheceram ter disparado tiros de advertência. A justificava foi que os diplomatas "se desviaram do itinerário aprovado" em Jenin, uma cidade no norte da Cisjordânia onde Israel lançou uma ofensiva militar. A delegação "entrou em uma área onde não estava autorizada a estar", disseram as forças armadas em um comunicado.
"Soldados do exército israelense que operavam na área dispararam tiros de advertência para afastá-los", acrescentou, antes de lamentar o "inconveniente causado".
O incidente
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina divulgou um vídeo mostrando duas pessoas vestidas com uniformes do exército israelense apontando uma arma para um grupo de diplomatas.
Um jornalista da AFP que estava nas proximidades confirmou ter ouvido tiros e conseguiu registrar o momento em que vários veículos diplomáticos deixaram a área às pressas.
Fontes diplomáticas indicaram que representantes da China, Japão, México, França, Holanda, Itália, Espanha e Romênia participavam da visita.
— Era a última parte da visita e de repente ouvimos tiros vindos do campo de refugiados de Jenin — disse um diplomata à AFP sob condição de anonimato.
— Não foi só uma ou duas vezes. Foi como se fossem tiros repetidos. É uma loucura. Não é normal — acrescentou.
Reação internacional
A ONU chamou os disparos israelenses de "inaceitáveis".
— (O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres) está alarmado com os relatos do que o exército israelense chamou de tiros de advertência disparados contra diplomatas, incluindo funcionários da ONU — disse seu porta-voz, Stéphane Dujarric, que pediu às autoridades israelenses que "conduzam uma investigação completa, compartilhem os resultados e tomem todas as medidas necessárias para evitar que tal incidente aconteça novamente".
Ministério das Relações Exteriores da Espanha confirmou que havia um espanhol no grupo de diplomatas, que passa bem. O ministério disse estar em contato com outros países afetados para coordenar conjuntamente uma resposta ao ocorrido.
O ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, por sua vez, descreveu os tiros de advertência como ameaças "inaceitáveis".
O ministro das Relações Exteriores europeu, Kaja Kallas, também condenou o incidente e alertou Israel.
— Qualquer ameaça à vida de diplomatas é inaceitável. Israel é signatário da Convenção de Viena e, portanto, tem a obrigação de garantir a segurança de todos os diplomatas estrangeiros — disse Kallas.
Em um comunicado, o ministério palestino condenou "nos termos mais fortes o crime atroz cometido pelas forças de ocupação israelenses, que consistiu em disparar diretamente munição real contra uma delegação diplomática credenciada no Estado da Palestina".
Foi "uma violação flagrante e grave do direito internacional", acrescentou.
O incidente ocorre em meio à crescente pressão internacional sobre Israel por sua implacável ofensiva na Faixa de Gaza.
* Produção: Camila Mendes