O desaparecimento da menina britânica Madeleine McCann, que sumiu enquanto passava as férias de verão de 2007 com os pais em Portugal, teve um novo capítulo nesta semana: o jornal britânico The Sun revelou que novas provas foram encontradas pela polícia alemã, que investigou o principal suspeito do caso. A criança sumiu do resort de onde sua família passava férias, no Algarve, perto da Praia da Luz, em Portugal, pouco antes de completar quatro anos.
Em 2020, na Alemanha, Christian Brueckner apareceu como um suspeito. Ele viveu muitos anos em Portugal, inclusive na região de Praia da Luz, por volta da época do desaparecimento de Madeleine. Apesar de ser apontado como principal suspeito, ele nunca foi formalmente acusado e nega qualquer envolvimento no caso.
Marcado por controvérsias, o misterioso caso foi investigado por um ano e dois meses pela Justiça portuguesa, que decidiu arquivar o processo por falta de provas. Os pais da menina sempre defenderam a tese de um sequestro, mas ela nunca foi encontrada.
Evidências "perturbadoras"
Atualmente, Brueckner cumpre pena de sete anos de prisão após ter sido condenado pelo estupro de uma mulher americana em Portugal em 2005, caso que não envolve o sumiço de Madeleine.
Ele nega as acusações de ter matado a criança, mas um ex-companheiro de cela afirmou que ele supostamente confessou ter sequestrado uma jovem de seu apartamento de férias no Algarve, em Portugal. Posteriormente o homem repassou as informações ao tribunal de justiça alemão. Entretanto, não foram encontradas provas concretas que poderiam levar o homem a julgamento.

Até que, nesta semana, o jornal britânico revelou detalhes sobre provas que foram encontradas pela polícia alemã na fábrica desativada que Christian Brueckner comprou no interior da Alemanha em 2008, um ano após o desaparecimento de Madeleine.
As evidências foram apresentadas em um documentário que acompanha uma investigação do jornal The Sun sobre o caso. Foram descritas como "perturbadoras" e revelam uma suposta obsessão do suspeito por crianças. As provas incluem textos sobre sequestro, imagens de abuso infantil, fotos de meninas entre quatro e cinco anos, além de brinquedos, pequenas bicicletas, armas e um disco rígido.
Essas evidências incluem um GPS, que revelou movimentações do suspeito no Algarve nos anos após o desaparecimento, e uma foto dele nu na Barragem do Arade, a 56 quilômetros do local.
Outra pista seria o pedido de indenização de seguro assinado por Brueckner, após bater o seu motorhome em um festival na Espanha, em 2008. O seguro é apontado pelo The Sun como a primeira prova de que ele esteve no festival, onde uma testemunha diz que ele teria confessado que matou Madeleine. (entenda na linha do tempo abaixo)
Os policiais do Reino Unido monitoram o caso, mas os investigadores alemães pedem que intensifiquem seus esforços antes que Christian Brueckner seja solto, em setembro deste ano.
Mesmo que perturbadoras, especialistas em investigações criminais dizem que as novas evidências são o que se chama de provas circunstanciais: mostram que o homem teria a motivação e até interesse em cometer o crime, mas não apontam diretamente para o crime ou para a vítima.
Linha do Tempo do caso Madeleine McCann
2007 — Desaparecimento
Madeleine McCann, de três anos, desaparece do apartamento em que estava hospedada com os pais e irmãos gêmeos na Praia da Luz, Algarve, Portugal, em 3 de maio. Kate e Gerry McCann estavam jantando com amigos próximos dali.
Pais investigados: Kate e Gerry McCann são considerados suspeitos pelas autoridades portuguesas, mas não há provas que sustentem a acusação. A imprensa internacional começa a cobrir amplamente o caso.

Outros suspeitos: ao longo dos anos, vários outros nomes foram investigados. Um dos principais alvos foi o britânico Robert Murat, que morava nas proximidades do resort. Murat processou 11 jornais britânicos pelas acusações infundadas e ganhou uma indenização de 550 mil libras — o equivalente a cerca de R$ 1,7 milhão na época e R$ 4,1 milhões em valores atuais.
2008 — Denúncia ignorada
Helge Büsching denuncia Christian Brueckner à polícia, dizendo que ele teria feito um comentário suspeito em um festival alternativo na Espanha: "Sim, ela não gritou". A denúncia é ignorada pelas autoridades na época.
2011 — Criação da Operação Grange
O então primeiro-ministro britânico David Cameron autoriza a criação de uma força-tarefa na Scotland Yard para revisar o caso. Nasce a "Operação Grange", liderada por investigadores britânicos.
2017 — Denúncia de Büsching ganha atenção
A denúncia feita por Helge Büsching em 2008 começa a ser levada a sério pelas autoridades. Ele afirma ter morado perto da Praia da Luz e conhecido Christian Brueckner pessoalmente.
2019 — Documentário
A Netflix lançou a série documental O Desaparecimento de Madeleine McCann, que mostrou detalhes do caso. Veja o trailer:
2020 — Christian Brueckner se torna principal suspeito
A polícia alemã anuncia Christian Brueckner como principal suspeito. Ele está preso na Alemanha por outro crime. Brueckner nega envolvimento no desaparecimento de Madeleine.
2023 — Desculpas formais aos pais
Policiais portugueses viajam até Londres para pedir desculpas formais a Gerry McCann, pai de Madeleine, pela maneira como ele e a esposa foram tratados no início das investigações.
Fevereiro de 2024 — "Falsa Madeleine" é desmascarada
Julia Faustyna, polonesa de 23 anos, alega nas redes sociais ser Madeleine McCann. Após exames de DNA, é comprovado que ela não tem relação com a menina desaparecida. Julia é detida por perseguição no Reino Unido.
* Produção: Camila Mendes