
O novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, advertiu nesta terça-feira (6) que seu país "nunca estará à venda" durante uma reunião na Casa Branca com Donald Trump, que, por outro lado, disse que seria um "casamento maravilhoso" se o vizinho do norte se tornasse o 51º Estado dos Estados Unidos.
Apesar dos sorrisos, nesse primeiro encontro cara a cara a tensão era palpável. A relação bilateral do Canadá com os Estados Unidos, seu principal parceiro comercial, atravessa turbulências devido à guerra comercial iniciada por Trump desde que retornou ao poder em janeiro.
Carney prometeu enfrentar Trump, mas deve evitar irritá-lo para não fechar a porta para um acordo comercial. O premiê canadense disse que pediu para que o republicano parasse de se referir ao Canadá como o o 51º Estado dos Estados Unidos:
— Eu disse a ele que não adiantaria repetir essa ideia.
À pergunta sobre se gostaria que o Canadá fosse o primeiro país a assinar um acordo comercial com os Estados Unidos, Trump respondeu:
— Eu adoraria. (...) Temos algumas questões difíceis a discutir.
Antes de sua chegada, o magnata republicano deu uma ideia de como seria a reunião.
"Por que os Estados Unidos subsidiam o Canadá com 200 bilhões de dólares por ano, além de dar-lhes proteção militar GRATUITA e muitas outras coisas?", publicou Trump em sua plataforma Truth Social.
O republicano ainda acrescentou que os EUA não precisam "de nada" do Canadá. Na Casa Branca, os dois homens trocaram um aperto de mãos.
— Não se deve esperar "fumaça branca" ao final da reunião — advertiu na semana passada o novo líder canadense, utilizando uma metáfora típica dos tempos de conclave.
No Salão Oval, Trump insistiu que seria um "casamento maravilhoso" se o Canadá aceitasse seus reiterados apelos para se tornar o 51º Estado dos Estados Unidos.
Mas Carney rejeitou a proposta, dizendo: "Há lugares que nunca estão à venda (...) não estão à venda. Nunca estarão à venda".
Trump impôs tarifas de 25% ao Canadá e ao México, apesar de serem parceiros do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC).
Os vizinhos também foram afetados pelas tarifas aduaneiras impostas por Washington a vários setores, como o automobilístico, embora algumas tenham sido temporariamente suspensas para dar margem às negociações.
Transformar a relação
Carney prometeu transformar a relação do Canadá com os Estados Unidos.
— Nossa antiga relação, baseada em uma integração cada vez maior, chegou ao fim. A questão agora é como nossas nações irão cooperar no futuro — declarou Carney na sexta-feira.
O presidente dos Estados Unidos se intrometeu nas eleições canadenses desde o início, ao afirmar nas redes sociais que o Canadá enfrentaria "tarifa zero" se "se tornasse o precioso 51º Estado".
O Partido Conservador de Pierre Poilievre estava a caminho de vencer as eleições, mas os ataques de Trump, somados à renúncia do impopular ex-primeiro-ministro Justin Trudeau, mudaram o cenário.
Carney, que substituiu Trudeau como primeiro-ministro em março, convenceu os eleitores de que sua experiência na gestão de crises econômicas o tornava o candidato ideal para enfrentar Trump.
Recém-chegado à política, ele foi anteriormente presidente do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra. Carney é conhecido por medir as palavras, mas desta vez enfrenta o irascível Trump em território americano.
— Este é um momento muito importante para ele, já que insistiu durante a campanha que poderia enfrentar Trump — declarou à reportagem Genevieve Tellier, cientista política da Universidade de Ottawa.
O primeiro-ministro canadense tentará evitar o destino do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que sofreu uma reprimenda pública brutal de Trump e do vice-presidente JD Vance em fevereiro.
Um ponto a favor de Carney é que ele não é Trudeau, o ex-primeiro-ministro que Trump odiava e desprezava, chamando-o de "governador" do Canadá.