
Após o governo de Israel anunciar, no domingo (18), que permitiria uma quantidade limitada de ajuda humanitária em Gaza, cinco caminhões com mantimentos da ONU foram enviados à Faixa de Gaza nesta segunda-feira (19).
Essa foi a primeira autorização de entrada de suprimentos desde 2 de março, tomada dias depois de especialistas internacionais alertarem para o risco de fome extrema na região, cuja situação é descrita como catastrófica por agências internacionais.
O envio foi confirmado pelo órgão do Ministério da Defesa de Israel, responsável por supervisionar as atividades civis em Gaza e na Cisjordânia ocupada, que afirmou que a carga inclui alimentos para recém-nascidos e suprimentos básicos.
O responsável humanitário da ONU, Tom Fletcher, afirmou em comunicado que nove caminhões com ajuda humanitária das Nações Unidas receberam autorização para entrar na Faixa de Gaza nesta segunda-feira.
Para o representante da ONU, a entrada “é um avanço bem-vindo que deve ser mantido”, mas que, por enquanto, a ajuda representa “uma gota no oceano” após 11 semanas de bloqueio por parte de Israel.
Em comunicado, Fletcher apelou para que mais caminhões com mantimentos tenham permissão de entrada a partir de terça-feira (20). Segundo ele, a ajuda precisa ser regular, ampla e despolitizada.
Países pedem retomada completa da ajuda
Vinte e dois países divulgaram uma nota exigindo que Israel permita a entrada “imediata e completa” de ajuda coordenada pela ONU e ONGs.
A população em Gaza "enfrenta a fome" e "deve receber a ajuda de que necessita desesperadamente", aconselham os ministérios das Relações Exteriores da Austrália, Canadá, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia e Reino Unido.
O grupo condena o novo modelo de distribuição imposto por Israel, que segundo eles compromete a independência das agências humanitárias e atrela a ajuda a interesses políticos e militares.
“A ajuda humanitária jamais deve ser politizada”, afirmam os signatários.
Plano prevê "conquista" de Gaza
Nesta segunda, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu voltou a afirmar que Israel “assumirá o controle total” da Faixa de Gaza. Um plano revelado por seu governo prevê a “conquista” do território e o deslocamento da maior parte dos 2,4 milhões de habitantes para o sul da região — medida classificada como ilegal por órgãos internacionais.
Ataques israelenses mataram pelo menos 103 pessoas entre a noite de sábado (17) e a manhã de domingo (18), incluindo 18 crianças e 13 mulheres, segundo o Hospital Nasser, que precisou fechar seu principal hospital no norte de Gaza após bombardeios. Mais de 48 pessoas morreram em ataques aéreos na cidade de Khan Younis, incluindo casas e tendas que abrigavam deslocados.
Líderes classificam ofensiva israelense como "desproporcional"
Em nota conjunta, os líderes da França, Reino Unido e Canadá — Emmanuel Macron, Keir Starmer e Mark Carney — classificaram como “desproporcional” a ofensiva israelense contra o Hamas e prometeram responder com “medidas concretas” caso o governo de Benjamin Netanyahu não interrompa os ataques e não restabeleça plenamente a entrada de ajuda humanitária.
"Israel sofreu um atentado atroz em 7 de outubro. Sempre apoiamos seu direito de se defender, mas esta escalada ultrapassou todos os limites", diz comunicado.
O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro deixou 1.218 mortos e resultou no sequestro de 251 pessoas. Dessas, 57 continuam reféns em Gaza, sendo que 34 foram declaradas mortas pelo exército israelense.
Apenas desde a retomada da ofensiva militar israelense em 18 de março — após uma trégua de dois meses — mais de 53 mil pessoas morreram, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. A ONU considera os números confiáveis.
Eles também condenaram a “linguagem odiosa” de membros do governo israelense e alertaram que o deslocamento forçado de civis é uma violação do direito internacional humanitário.
Macron, Starmer e Carney reforçaram o compromisso com a realização da conferência prevista para 18 de junho, em Nova York, dedicada à busca de uma solução de dois Estados. Os líderes disseram estar dispostos a reconhecer um Estado palestino como forma de contribuir para um futuro pacífico e cooperativo na região.
Eles afirmaram que trabalharão com a Autoridade Palestina, parceiros regionais, Israel e Estados Unidos com base no plano árabe para reconstrução e governança de Gaza.