
O cardeal norte-americano Robert Prevost, eleito o 267º papa, nesta quinta-feira (8), se tornou o papa Leão XIV, um líder com décadas de dedicação pastoral e uma profunda admiração a seu antecessor. Papa Francisco, que morreu no dia 21 de abril, aos 88 anos, foi quem nomeou Prevost como bispo, em 2015.
Mas a relação entre os dois é anterior. Papa Leão XIV conheceu Jorge Mario Bergoglio quando este ainda era arcebispo de Buenos Aires. Na época, o cardeal estadunidense era prior geral da Ordem de Santo Agostinho e se encontrou diversas vezes com Bergoglio durante visitas aos confrades jesuítas na Argentina.
Já como líder da Igreja Católica, Francisco nomeou Prevost como administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, no Peru. Durante o período em que esteve à frente do pequeno rebanho da região de Lambayeque, o novo pontífice manteve encontros frequentes com Francisco, que demonstrava atenção especial ao povo peruano.
— Ele me perguntava: "Como estás? Como estão as coisas?” — contou Leão XIV em entrevista concedida antes de ser eleito papa.
Encontros semanais
Durante dois anos, em sua função de prefeito do Dicastério para os Bispos, Prevost encontrou-se semanalmente com Francisco aos sábados pela manhã.
— No começo era às 8 da manhã. Mas às vezes eu chegava às 7h30min e ele já estava me esperando, então comecei a ir um pouco mais cedo e às vezes ele se adiantava — disse Robert, que lembra dos conselhos que recebia de Francisco:
— Ele me dizia, entre outras coisas, ao final da audiência: “Não perca o senso de humor, você precisa sorrir".
Segundo ele, o Papa Francisco estava sempre bem informado e comprometido com as decisões e os trabalhos da Cúria:
— Muitas vezes, antes mesmo de eu chegar, ele já havia estudado os assuntos, sabia que decisões queria tomar.
— Ele era incansável, mesmo após a hospitalização — afirmou o então cardeal, lembrando ainda do bom humor do pontífice e da oração de Tomás Moro, que Francisco costumava citar para lidar com responsabilidades com leveza e fé.
Legado de Francisco
Em entrevista logo após a morte de Francisco, o novo Papa também relembrou com emoção o legado e os traços marcantes do pontífice argentino. Segundo ele, Francisco será lembrado por sua autenticidade, coerência, amor à Igreja Católica e proximidade com os pobres e os que sofrem.
Ele recordou ainda a visita do Papa ao Peru, em 2018, quando Francisco desceu do carro para saudar uma senhora cega de 99 anos que havia viajado para vê-lo.
— Ele desceu do carro, se aproximou dela e a cumprimentou. Francisco nos deixou muitos exemplos assim; em sua bela humanidade, quis viver o Evangelho e transmitir o Evangelho — disse Prevost.
O americano destacou também os gestos de Francisco até seus últimos dias, como a visita ao presídio Regina Coeli, na Quinta-feira Santa, mesmo com a saúde debilitada, e a carta enviada aos bispos dos Estados Unidos, em fevereiro passado, incentivando-os a estar próximos dos migrantes em meio aos programas de deportação em massa.
Para Prevost, Francisco transmitiu o desejo contínuo de reforma da Igreja. O Papa insistia na importância de renovar os modos de evangelizar, sempre adaptando a missão ao mundo atual, sem alterar a essência do Evangelho.
Entre os maiores legados deixados por Francisco, o cardeal destacou o amor pelos pobres e o ideal de uma Igreja que caminha com eles.
— Acredito que a mensagem do Evangelho é muito melhor compreendida a partir da experiência dos pobres, que não têm nada, que tentam viver a fé e encontram tudo em Jesus Cristo. Acho que, nesse sentido, o Papa deixou um exemplo muito grande para o mundo. Para mim, pessoalmente, ele deixou esse exemplo, pelo meu trabalho como bispo no Peru, como missionário, e por muitas outras coisas — disse o novo Papa.
Ao ser questionado sobre o legado de Francisco, Prevost foi sincero: "difícil responder".
— Levarei muito tempo para compreender verdadeiramente o que ele deixou para mim, para a Igreja e para o mundo — concluiu.