
Duas empresas de biotecnologia receberam aval da Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) para realizar testes clínicos com rins de porcos para transplantes em humanos com insuficiência renal. O anúncio ocorreu na terça-feira (4) e possibilita estudos sobre o procedimento nos próximos meses.
Nos últimos anos, cinco pacientes sem opções de outros tratamentos passaram pelo transplante e receberam um rim de origem suína. No entanto, apenas Towana Looney, 53 anos, que passou pelo procedimento em 5 de novembro de 2024, sobreviveu.
David Bennet Sr, 57 anos, morreu em fevereiro de 2022, dois meses após receber o coração de um porco. Ele foi o primeiro humano a recer um coração suíno geneticamente modificado.
As autorizações foram concedidas à United Therapeutics e à eGenesis, empresas que realizam experiências para implantar rins de porcos em humanos desde 2021. Incialmente, os testes eram reealizados apenas em pacientes com morte cerebral confirmada, e mais recentemente em pessoas vivas.
Os pesquisadores pretendem dar uma resposta à escassez de órgãos para transplantes. Mais de 100 mil pessoas nos Estados Unidos estão na lista de espera para transplantes, incluindo mais de 90 mil que aguardam por um rim.
Conheça as empresas
United Therapeutics
A autorização para a United Therapeutics permitirá que a empresa avance no desenvolvimento de sua tecnologia para obter a licença do produto caso os testes sejam bem-sucedidos. O primeiro transplante está previsto para ser realizado em seis meses.
A autorização é um "passo significativo na nossa missão incessante de expandir a disponibilidade de órgãos para transplantes", disse o vice-presidente-executivo da empresa, Leigh Peterson.
Os testes clínicos serão realizados inicialmente em seis pacientes com insuficiência renal terminal até chegar a 50 pessoas, detalhou, em nota, a empresa. A United Therapeutics informou que os pacientes que se submetam aos testes terão acompanhamento por toda a vida, avaliando as taxas de sobrevivência, a função do rim e o risco de infecções zoonóticas, isto é, doenças transmitidas de animais para humanos.
eGenesis
Já a eGenesis informou ter recebido a autorização da FDA em dezembro para um estudo em três pacientes.
"O estudo vai avaliar pacientes com insuficiência real, que estão na lista de espera, mas que têm baixa probabilidade de receber a oferta de um doador falecido em um prazo de cinco anos", explicou a companhia.
O xenotransplante, ou seja, de uma espécie para outra, é um objetivo da ciência, mas ainda sem resultados de sucesso.
As primeiras experiências com primatas fracassaram, mas os avanços em edição genética e gestão do sistema imunológico deixam o objetivo cada vez mais próximo.
Os porcos se revelaram doadores ideais: crescem rápido, se reproduzem em ninhadas numerosas e fazem parte da alimentação humana.